O antigo reitor da Universidade de Lisboa Sampaio da Nóvoa defendeu, em Faro, a necessidade de as instituições universitárias se afirmarem “a partir de dentro”, “sem andarem a correr atrás de lógicas e critérios impostos de fora”.

Ao discursar na cerimónia em que foi distinguido com o grau de doutor Honoris Causa pela Universidade do Algarve (UAlg), Sampaio da Nóvoa agradeceu a distinção e disse ser consciente de que se trata de um “gesto único”, numa época marcada pela “competição”, é “difícil distinguir alguém que, ainda há pouco, era reitor de outra Universidade”.

“Na nossa época, de uma competição levada ao extremo, é sempre mais fácil elogiar quem está distante (num outro país, num outro planeta) do que assumir compromissos com quem está próximo, com quem habita connosco um mesmo espaço e um mesmo tempo”, afirmou o antigo reitor da Universidade de Lisboa, que apresentou há cerca de uma semana a candidatura à Presidência da República.

Sampaio da Nóvoa disse que a sua distinção é um convite “a todos, a parar, nem que seja apenas por um instante, para repensar grande parte das linguagens e das práticas que têm invadido o mundo universitário”, que se tem pautado, pelo “apelo a uma competição permanente, a rankings tantas vezes perversos, a uma vida académica dominada por métricas absurdas de avaliação dos professores e dos investigadores, e por aí adiante”.

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“É urgente reencontrar um sentido para o trabalho universitário, e só o conseguiremos se tivermos a ousadia de percorrer outros caminhos e de afirmar as nossas instituições a partir de dentro, da procura da nossa própria identidade, sem andarmos sempre a correr atrás de lógicas e de critérios que nos impõem de fora”, acrescentou.

O novo doutor Honoris Causa pela UAlg qualificou o seu percurso académico com as palavras “liberdade, conhecimento e compromisso” e considerou que a liberdade “não existe sem igualdade, sem diversidade, sem aprendizagem”, porque, disse, “a aprendizagem de todos é a marca de água da escola pública e da liberdade”.

“Também há quem considere que a democracia deve parar à porta da escola. Mas não. A liberdade faz-se também de dinâmicas de presença e de participação. A escola tem de habituar as crianças, como queria António Sérgio, ‘à ação municipal, à própria vida da cidade, ao exercício dos futuros direitos de soberania e de autogoverno'”, acrescentou.

Sampaio da Nóvoa frisou que “são muitas as facetas da liberdade”, mas no seu seio “está sempre uma inquietação, um desassossego, uma procura”, que é o que define melhor a sua história pessoal, apesar das suas “dúvidas e imperfeições”.

“O que me interessa sublinhar é a forma como o conhecimento é a base da liberdade, de uma razão ilimitada, da procura ‘descomprometida’, liberta de ‘dogmas, inquisições e fundamentalismos’, de ‘poderes políticos, financeiros e sociais”‘ (António Coutinho). Mas este ‘descomprometimento’ não pode ser nunca ausência de compromisso. Bem pelo contrário. É o assumir de um compromisso maior, de uma responsabilidade que vai muito para além da universidade”, afirmou ainda antigo reitor e candidato a Belém.