O primeiro antibiótico usado em contexto médico teve origem num fungo. Agora poderão ser os vírus a assumir um papel relevante no combate às bactérias super-resistentes. A proposta, publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, foi feita por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Telavive (Israel) que pretendem combater sobretudo as infeções hospitalares.
Em 1928, Alexander Fleming verificou que uma colónia de bactérias Staphylococcus aureus tinha sido destruída pelo fungo Penicillium notatum. Mais tarde, o bacteriologista britânico percebeu que o fungo produzia uma substância que matava as bactérias causadoras de doenças – a penicilina. Mas a verdade é que este antibiótico só começou a ser amplamente produzido e utilizado na medicina a partir dos anos 1940. Esta descoberta valeu a Fleming o prémio Nobel da Medicina em 1945.
Os vários antibióticos produzidos ao longo dos anos mostraram-se eficazes no combate às bactérias patogénicas, mas o uso cada vez mais frequente e, muitas vezes, indiscriminado destes fármacos tem potenciado o aparecimento de batérias multirresistentes, que já nem os antibióticos mais fortes conseguem destruir.
Alguns erros comuns no tratamento com antibióticos que potenciam o aparecimento de bactérias super-resistentes:
* Usar antibióticos para tratar infeções que não são causadas por bactérias, como as infeções por vírus;
* Aconselhar o antibiótico mais forte quando um mais fraco seria suficiente ou aconselhar um antibiótico mais fraco quando era necessário atacar a infeção de uma forma mais agressiva e eficaz;
* Escolher um antibiótico generalista em vez de utilizar um antibiótico mais específico para a bactéria em causa;
* Não completar a medicação aconselhada;
* Manter um tratamento com antibióticos durante demasiado tempo.
Para tornar as bactérias novamente sensíveis aos antibióticos, a equipa de Udi Qimron, investigador responsável pelo estudo, desenvolveu vírus capazes de destruir bactérias (fagos) capazes de atuar seletivamente nas bactérias patogénicas que não são mortas pelos antibióticos, refere o jornal espanhol El País. Mas a ideia não é utilizá-los como medicamentos, pelo menos por enquanto. Estes fagos serão ideais para a esterilização dos materiais hospitalares, para a limpeza de supefícies ou até no sabão de mãos dos cirurgiões, para tentar combater as infeções hospitalares multirresistentes cada vez mais frequentes.
Os fagos Lambda, utilizados pelos investigadores, são especialistas em infetar a bactéria Escherichia coli – uma bactéria comum no intestino, mas cujo crescimento descontrolado se pode tornar perigosa para o homem. Nesta experiência, a equipa de Udi Qimron manipulou geneticamente o vírus para que atacasse especificamente os genes que fazem com que as bactérias patogénicas se tornem resistente aos antibióticos. Sem capacidade para anular o efeito dos antibióticos, as bactérias enfraquecidas são mortas por eles.
A ideia dos investigadores israelitas não é, contudo, nova. Aliás, tem quase 100 anos. Em 1917, o microbiólogo franco-canadiano Félix d’Herelle demonstrou que os fagos eram mais eficazes a combater micróbios do que qualquer outro método conhecido na altura. Esta ideia teve muito sucesso durante os anos 1920 e 1930, mas por motivos sociais e políticos acabou por ser abandonada no ocidente. Mesmo a combinação de fagos com penicilina, que chegou a ser usada no Hospital St. Mary, em Londres, foi também abandonada. Agora, a ideia geral é retomada pela equipa de Telavive.