O Festival Europeu Eurovisão da Canção celebra 60 anos. O concurso, visto por cerca de 180 milhões de espectadores, tem milhares de histórias curiosas no seu percurso.
Mas se muitos foram os participantes que passaram pelo programa, apenas alguns ocuparam um lugar de destaque na história do concurso. Antes e mais uma edição, este sábado, 23, o Observador recuperou os 10 melhores momentos do Festival, segundo o jornal ABC:
1. “Nel blu Dipinto di blu“, a primeira grande falha técnica (1958)
Lembra-se da música italiana “Nel blu Dipinto di blu” do cantor Domenico Modugno em 1958, na terceira edição do festival? É que em alguns países europeus a música não foi transmitida. A razão foi uma falha técnica de rede que aconteceu logo no início.
Contudo, depois de todos os outros participantes terem atuado, Domenico Modugno foi convidado pela produção do Festival da Eurovisão a interpretar a canção novamente. Naquela noite a música não passou do terceiro lugar, mas o tema é um dos maiores sucessos de musica internacional italiana.
2. Empate em 1.º lugar… de quatro países (1969)
Dato curioso de Eurovisión:
Salvador Dalí diseñó tanto la publicidad como el escenario de Eurovisión en 1969. pic.twitter.com/pW5qtoH4fn
— Augusto en un buen momento (@nelzogn) May 5, 2015
Em 1969, o Festival Eurovisão da Canção decorreu em Espanha durante o Governo ditatorial de Franco, que abriu uma exceção para a ocasião e recebeu as delegações convidadas. O cartaz promocional foi desenhado pelo pintor espanhol Salvador Dalí. Problemas técnicos? Esses não faltaram na gala, revelando a pouca capacidade da TVE espanhola para emitir um festival tão complexo. Mas o verdadeiro desastre aconteceu quando, após a votação para eleger o vencedor, quatro países empataram em primeiro lugar, o Reino Unido, França, Holanda e Espanha.
Após o impasse, a apresentadora Laura Valenzuela chamou o secretário escrutinador da EBU, Clifford Brown, para declarar qual era, afinal, o país vencedor. Mas como as regras não previam um empate, as quatro músicas foram consideradas vencedoras e cada uma recebeu um troféu.
3. ABBA: o grupo que elevou o festival a um outro nível (1974)
“Depois do dia 6 de abril de 1974, o Festival da Eurovisão está morto. Os dias em que rapazes e raparigas (…) simplesmente cantavam uma canção foram-se. Agora esperamos mais que isso: uma boa canção, um bom show, e uma boa indumentária.” Estas foram as palavras escritas pela revista Disc Magazine no dia seguinte ao grupo sueco ABBA ter vencido o Festival da Eurovisão com o tema “Waterloo”.
O sucesso estrondoso dos ABBA mudou a própria conceção do festival. A Eurovisão abandonou a vertente estritamente musical para se tornar num show de televisão. E os ABBA deixaram de ser “só mais uma banda sueca” para se tornarem numa lenda no mundo da música.
A atuação foi talvez a mais memorável da história do programa. Os quatro membros do grupo (Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad) usavam roupas exuberantes desenhadas por Inger Svvenke. O maestro da orquestra Sven-Olof Walldoff vestiu-se como Napoleão Bonaparte. Depois de conquistarem a primeira vitória da Suécia no festival, a banda lançou hits temas como “Dancing Queen”, “The Winner Takes It All”, “Super Trouper” e “Gimme Gimme Gimme”.
4. Imprevisivelmente… Despida (1985)
Lill Lindfors apresentou o programa em 1985, que teve lugar em Gotemburgo na Suécia. A dado momento, durante a gala, Lill desceu as escadas do palco graciosamente vestida de verde e… É melhor ver o vídeo.
Para espanto de todos, a saia do conjunto que levava vestido prendeu-se ao chão deixando a cantora em roupa interior. Mas Lill recompôs-se rapidamente: transformou a camisa que levava, num vestido “improvisado”. A surpresa foi recebida pela plateia com uma ovação de pé. Já a organizadora EBU, que não foi informada por o truque estar em “sigilo total”, não achou muita piada à brincadeira.
5. Celine Dion já participou no festival e representou a Suíça (1988)
É verdade, Celine Dion já participou no Festival da Eurovisão e ganhou. Curiosamente, a cantora canadiana representou a Suíça com o tema francês “Ne partez pas sans moi” que lhe deu visibilidade internacional.
“Eles pediram-me para representar um país que não era o meu. A canção era incrível e eu não senti que estava a representar ninguém, simplesmente cantei o melhor possível. Tudo correu muito bem e estou muito agradecida ao festival.”, afirmou a cantora.
6. Uma saída de rompante (1990)
Em 1990, as irmãs Encarna e Toñi Salazar, que formavam a banda Azúcar Moreno, representaram Espanha com a canção “Bandido”. O sorteio para determinar a sequência das performances fez com que fossem as primeiras a atuar. Mas assim que entraram em palco começaram os problemas.
O maestro Eduardo Leyva não tinha ouvido a música de antemão e não conduziu corretamente a orquestra. A melodia foi trocada e após uns longos segundos, para o espanto de todos, as duas irmãs abandonaram o palco. A plateia aplaudiu a saída para evitar um silêncio constrangedor.
A organização tentou corrigir o erro e quando finalmente conseguiu, as Azúcar Moreno voltaram a entrar em palco e chegaram ao quinto lugar da competição europeia.
7. A primeira cantora transexual (1998)
Hasta que llegó la chica con barba, Dana Internacional era la más recordada. pic.twitter.com/DUEYwn6bjK
— QueBienTeConservas (@qbtconservas) May 18, 2015
Para além dos ABBA, a maior atenção mediática de sempre no Festival da Eurovisão foi dada a uma jovem transexual: Dana International, que representou Israel com o seu tema “Diva”, venceu o concurso em 1998. Esta foi também a primeira vez que se utilizou o voto telefónico para eleger o vencedor.
À participação de Dana seguiu-se de uma grande polémica devido à sua participação por parte dos israelitas ultra-conservadores. A cantora transexual chegou mesmo a ser classificada como “o demónio” e recebeu várias ameaças de morte. Contudo, após a sua vitória, vários jovens saíram às ruas de Tel Aviv para comemorar, numa demonstração de apoio à sua nova “heroína nacional”.
A popularidade de Dana Internacional (pelos melhores e piores motivos) disparou. Foi a primeira artista israelita a ser entrevistada pelo canal norte-americano de música MTV e vendeu 400 mil cópias do single que lhe deu a vitória na Eurovisão.
8. Os monstros ganharam o Festival (2006)
O Festival da Canção de 2006 foi bizarro. O grupo finlandês de heavy-metal, Lordi, subiu ao palco com uma particularidade: todos os membros estavam vestidos como monstros e demónios. A irreverência valeu a pena e o grupo levou para casa o prémio do primeiro lugar.
A banda destacou-se mesmo sem utilizar o espetáculo de pirotecnia que pretendia usar no palco de Atenas, e que a televisão finlandesa se recusou apoiar financeiramente. Foram os fãs do grupo que tornaram (economicamente) possível a utilização de uma bateria em chamas durante a performance.
A polémica cresceu na Grécia: a presidente da união grega de bares e restaurantes, Niki Kostantinidou, lançou uma petição pública aos cidadãos finlandeses e gregos para que o grupo ao qual chamou “satânico” não pudesse atuar no evento. Mas não teve sucesso.
9. O “salto” que arruinou o espetáculo (2010)
Em 2010, Daniel Diges estava a meio da sua atuação no Festival da Eurovisão em Oslo, na Noruega. De repente, o cantor que representava Espanha com a canção “Algo pequeñito” (“Algo pequeno”) foi surpreendido por Jimmy Jump, um catalão conhecido por interromper eventos desportivos e culturais de grande dimensão. Jimmy saltou para o meio do palco onde Daniel se encontrava e boicotou a sua atuação, sem mais nem menos.
Perante o pânico e a incredulidade, Daniel Diges ficou sem voz. De seguida, três membros da segurança removeram Jimmy Jump do palco enquanto a musica ainda tocava. No final do espetáculo, o cantor espanhol foi convidado a repetir a canção e desta vez sem Jimmy Jump. Esta foi a segunda vez na História do Festival da Eurovisão que um concorrente interpretou o tema duas vezes sem ser o vencedor, 52 anos depois de Domenico Modugno.
10. Conchita Wurst, a mulher barbuda (2014)
Conchita Wurst foi provavelmente uma das mais memoráveis participantes do Festival da Eurovisão. Em 2014, com uma aparência feminina e uma contrastante barba negra, Conchita surpreendeu Copenhaga com o tema “Rise like a Phoenix” (“Levanta-te como uma Fénix”), que a levou à vitória.
O impacto mediático de Conchita foi equiparado ao de Dana International em 1998. A austríaca de 26 anos teve direito a reconhecimento internacional, muitos elogios, concertos e entrevistas. A canção que a levou à vitória foi uma das músicas mais compradas no iTunes, a plataforma de música da norte-americana da Apple, alcançando a terceira posição em 14 países. Conchita palmilhou as passadeiras vermelhas do Festival de Cinema de Cannes e dos Globos de Ouro.
“Esta noite é dedicada a todos os que acreditam num futuro de paz e liberdade. Vocês sabem quem são, estamos unidos e somos imparáveis”, disse a cantora numa clara defesa dos direitos dos homossexuais, a causa que defende.