Há uns anos seria inimaginável pensar que as chamadas cuecas de avó se pudessem tornar moda, mas o impensável aconteceu. O cinema tentou alertar-nos para essa possibilidade ao longo dos anos, desde que Cameron Diaz dançou com umas cuecas enormes no filme Os Anjos de Charlie ou, mais recentemente, Reese Witherspoon apareceu com umas cuecas brancas dotadas em Perseguição Escaldante, tendo de ouvir da personagem interpretada por Sofía Vergara: “isso não são cuecas, são fraldas”.

Mas não é só o cinema a dizê-lo. Segundo a analista de mercado, Bernadette Kissane, “para os grupos consumistas da nova geração é considerado cool usar cuecas grandes”, acrescentando que “as tangas já tiveram o seu momento”. Esta teoria é corroborada através de resultados de estudos levados a cabo pela NPD Group. Nos Estados Unidos, a venda de tangas diminuiu sete por cento em 2014, enquanto as vendas de cuecas mais compostas, sejam elas boxers, de cintura subida ou as chamadas cuecas da avó, cresceram 17 por cento.

Erica Russo, diretora de acessórios, cosmética e roupa íntima da Bloomingale’s, disse ao The New York Times que há uma “mudança no negócio”, justificando-a com o facto de as calças de cintura subida estarem a dominar o mundo da moda. A verdade é que as mulheres mais novas estão, cada vez mais, a render-se aos encantos das cuecas da avó.

Os exemplos de novas marcas que adotam o estilo são variados. Daphne Javitch é uma assumida fã das cuecas que tapam tudo e foi essa paixão que a levou a fundar a Ten Undies, uma linha de roupa interior que vende partes de baixo de biquínis de algodão, boxers e cuecas de cintura subida parecidas com as imortalizadas por Renée Zellweger no Diário de Bridget Jones (outra referência cinematográfica obrigatória).

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cuecas Bridget Jones

O Diário de Bridget Jones

Já Julia Baylis e Mayan Toledano, de 22 e 27 anos, são as criadoras da marca Me and You, cuja peça mais vendida são umas cuecas brancas de algodão com a palavra “Feminist” escrita a cor de rosa na parte de trás. Desde que a coleção foi lançada a 7 de abril, as cuecas esgotaram e têm sido alvo de muitas belfies (selfies do rabo) no Instagram.

https://instagram.com/p/3REcHbG0xv/?taken-by=cherrybombemag

Baylis diz que “a maior parte da lingerie é feita para apelar aos homens” sublinhando que “para nós, isso nem é um fator a ter em conta. Esta roupa interior é feita exclusivamente para as mulheres. Talvez ninguém a vá ver ou talvez vá acabar por colocá-la no Instagram e partilhá-la com toda a gente que conhece”. No entanto, não significa que as compradoras da Me and You não se queiram sentir sexy. “O que é sexy para nós é ser natural e estar confortável.”

Javitch, da Ten Undies, acredita que há “a ideia errada de que os homens gostam de tangas de pérolas e de renda”, defendendo que eles gostam é de “raparigas de t-shirts e roupa interior branca”.

E em Portugal, a moda já pegou?

Joana Strecht tem 21 anos e trabalha na Dama de Copas, uma cadeia de lingerie que tem lojas em Lisboa, Porto e Madrid. É uma adepta das cuecas mais compostas e, por isso, diz achar esta moda “o máximo”, confirmando que em Portugal a procura por este modelo também aumentou muito. Segundo disse ao Observador, basta passar na loja, onde as cuecas de cintura subida desaparecem num instante, para perceber as preferências da clientela. A justificação pode estar em dois fatores: “Acho que são mais estéticas e são confortáveis”, diz Joana.

Embora o público feminino português mais novo ainda não tenha aderido em massa, a jovem acredita que este fenómeno deve-se ao facto de as pessoas seguirem muito o que está na moda, dizendo que “antigamente não se via ninguém na praia com cuecas de fato de banho de cintura subida e agora há muita gente”.

A mudança de paradigma na moda de roupa interior vem, essencialmente, dar o poder às mulheres de escolherem aquilo que as faz sentir melhor e deixarem de pensar se outra pessoa vai gostar ou não. Quanto ao sentir-se sexy, isso certamente estará em si e não na quantidade de tecido que veste.