Virgolino António de Jesus. O nome não entrou para os anais da história do Sporting. Não só porque não jogou muito com a camisola verde e branca naqueles anos em que a Segunda Guerra Mundial dominava a Europa. Como porque o que veio a seguir ao pós-guerra nos relvados de Alvalade eclipsou tudo o resto que ficou para trás.
Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e José Travassos, os maiores dos leões, a marca registada como “5 Violinos” do futebol português, apagaram com a sua fama os seus antecessores, é certo, mas Virgolino Jesus ainda jogou com eles. Jogar é uma força de expressão, mas a verdade é que conviveram no balneário leonino. Virgolino passou pelo Sporting entre 43 e 45. Os Violinos espalharam classe e golos entre 46 e 49.
Um e os outros são a referência maior de Jesus, o Jorge, o treinador bicampeão pelo Benfica que — surpresa!– vai agora orientar o clube do leão. O primeiro é nem mais nem menos que o seu pai. Os outros aqueles que gostava de ter imitado como jogador.
Virgolino Jesus, o pai, é pois o homem que tornou Jorge Jesus, o filho, sportinguista. Uma devoção que JJ nunca escondeu. “Nunca dedico vitórias à minha família, mas dedico esta ao meu pai. Que me perdoem os benfiquistas,” foi assim a dedicatória muita emocionada, de lágrimas nos cantos dos olhos, do treinador bicampeão pelo Benfica quando conquistou o seu primeiro troféu na Luz: a Taça da Liga diante do FC Porto (3-0).
A adoração ao pai, leão de ouro pelos 50 anos de sócio, fez com que lhe quisesse seguir os passos. E conseguiu. Jorge também foi jogador do Sporting. Ainda que tal como Virgolino, a carreira de jogador não o tivesse levado à ribalta.
E enquanto Virgolino pisou Alvalade em anos conturbados para a Europa, Jorge fê-lo numa época complicada para Portugal. Vestiu de verde e branco quando o país mudava de regime. Jesus, o Jorge, jogou primeiro pelos juniores leoninos, entre 73 e 74, e depois estreou-se nos seniores, em 75. Também ele não jogou muito — 14 jogos/4 golos –, mas deixou a sua marca e cumpriu um sonho naquela época quente.
É a época em que o Sporting vê Bastos partir para Espanha e Yazalde para França, mas vê chegar Manuel Fernandes que vem da CUF juntamente com Vítor Gomes e não desilude ao substituir o grande goleador argentino. Treinada por Juca, a equipa leonina desse ano não pode contudo ter deixado boas recordações a Jesus: acaba num modesto 5º lugar, com 38 pontos, a 12 do campeão Benfica (16 vitórias, 6 empates, 8 derrotas, 54 golos marcados e 31 sofridos), e fora dos lugares que dão acesso às competições europeias. A Taça também foi perdida para o Boavista.
E há um jogo que talvez valha a pena recordar agora mais do que nunca. Aquele em que o Sporting foi empatar (0-0) à Luz, a 28 de dezembro de 75. Jorge Jesus entrou, com o número 16 nas costas, aos 28 minutos para o lugar do lesionado Manuel Fernandes, mas acabaria por ser substituído aos 80′ por Baltazar.
Depois de Alvalade, Jesus teve uma longa carreira, mas sempre em clubes pequeninos. Passou pelo Peniche, Olhanense, Belenenses, Riopele, Juventude, U. Leiria, V.Guimarães, Farense, Estrela da Amadora, Benfica e Castelo Branco ou Almancilense. Haveria de retirar-se muito depois da passagem pelo Sporting, em 89, já com 35 anos, para se dedicar a uma carreira de treinador que começou no Amora.
É nessa qualidade que agora, à beira de fazer 61 anos (24/7) regressa a Alvalade. Por amor à camisola. E aos euros: o acordo financeiro com o Benfica foi impossível e falaram mais alto os seis milhões (salários e prémios) propostos por Bruno de Carvalho graças a investidores angolanos (entre eles o accionista Álvaro Sobrinho) e da Guiné Equatorial. É um regresso onde sempre teve o coração. Onde a memória do pai Virgolino perdura. Devoção não lhe falta. A glória volta a ser um sonho.