Cientistas preveniram nesta terça-feira em Bona para o círculo vicioso que representaria, para as alterações climáticas, o degelo do permafrost, os solos gelados em permanência que retêm milhares de milhões de toneladas de gases com efeito de estufa. “Existem 1,5 biliões (milhão de milhões) de toneladas de gases com efeito de estufa congeladas e retidas no permafrost”, que representa um quarto da superfície terrestre no Hemisfério Norte, afirmou a investigadora Susan Natali, do Woods Hole Research Center, à margem das negociações que decorrem em Bona para preparar a conferência sobre o clima da Organização das Nações Unidas, prevista para novembro/dezembro, em Paris.

Aquele volume, acumulado há milhares de anos, é “cerca de duas vezes mais importante do que o já está na atmosfera”, realçou, em declarações à comunicação social. “Podem, portanto, imaginar que, quando o permafrost derreter e uma parte, mesmo pequena, desse gás com efeito de estufa for libertado na atmosfera, isso possa causar um aumento importante das emissões globais” destes gases, acrescentou.

As emissões resultantes do degelo do permafrost, sob a forma de dióxido de carbono ou metano, aceleram o ritmo do aquecimento global, que por sua vez intensifica o degelo, explicou Natali, descrevendo o círculo vicioso. “Segundo as nossas estimativas, 130 a 160 giga toneladas de gases com efeito de estufa poderiam ser libertadas na atmosfera até 2100” em razão deste degelo, quantificou Natali.

As zonas do permafrost cobrem cerca de 25% da terra do Hemisfério Norte. Até ao final do século, devem diminuir entre 30% a 70%, conforme a dimensão das emissões dos gases com efeito de estufa. “Nos cenários de emissões fracas, prevemos uma perda de 30%”, número este que pode subir para os 70% nos cenários mais negros, indicou a cientista, coautora de um estudo publicado na revista ‘Nature’ em abril.

A estimativa mais baixa supõe uma redução drástica destas emissões, para que se possa atingir o objetivo de limitar o aquecimento global a dois graus centígrados (2ºC) em relação ao período anterior à Revolução Industrial que a comunidade internacional fixou. A estimativa mais alta corresponde a um cenário em que as emissões não estão sujeitas a qualquer controlo.

A conferência de Paris vai procurar concretizar um acordo parta que o aquecimento global fique abaixo dos 2ºC. Até ao seu início, os países têm de apresentar os seus objetivos de redução da emissão destes gases. “As ações que decidirmos agora sobre as nossas emissões devidas às energias fósseis vão ter um impacto importante”, sublinhou Natali. “Sabemos que as fugas de gases com efeito de estufa do permafrost vão ser importantes e irreversíveis” e que elas “devem ser tomadas em conta se quisermos atingir os nossos objetivos em termos de emissões”, preveniu ainda a cientista.

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