Os frascos não vestiram o biquíni, mas quase. Alguns puseram uma coroa de flores na tampa, como se estivessem na primeira fila de um festival, outros pintaram-se com as cores de praias paradisíacas enquanto despejavam dentro das embalagens uma lista de ingredientes que podia estar nos chapéus de Carmen Miranda: toranja, tangerina, framboesa, uvas, limão. Tudo em nome de aromas mais frescos, capazes de funcionar como uma pequena ventoinha olfativa.

Lourenço Lucena, perfumista português que se dedica a criar novos aromas, chama às edições limitadas que as principais marcas lançam por esta altura “uma oportunidade sustentada de mercado”. “Há perfumes que na sua constituição são mais pesados, e no verão apetece uma versão mais leve, mais fresca. Um perfume é uma história cujo enredo tem um conjunto de personagens, que são as suas matérias-primas, e aqui o trabalho não é inventar uma fragrância nova mas potenciar algumas das matérias-primas que já estão na sua constituição.”

Isto porque, tal como acontece com as cores e os tecidos, “há matérias que são marcadamente mais frescas”. “À cabeça temos os citrinos, as notas verdes, que vamos buscar à natureza, as marinhas e as aromáticas, como os coentros e o manjericão”, diz o perfumista, por oposição a matérias “mais quentes como as madeiras, as especiarias, o caramelo, o cacau e os frutos secos como as nozes e as avelãs”. “Mas na perfumaria não existem dogmas”, continua o especialista. “As flores, por exemplo, são transversais. Eu posso ter o jasmim num perfume mais invernoso, porque é uma flor opulenta, mas se o cruzar com a tangerina tenho um pump mais fresco.”

Cestos de fruta ou ramos de flores, os perfumes de verão são também muitas vezes como a melancia: ricos em água, ou não levassem as palavras eau de toilette no frasco. “Isso tem a ver com o grau de concentração do perfume”, diz Lourenço Lucena ao Observador, explicando que todos os perfumes são uma soma de concentrado, água e álcool. O mais rico é o parfum (a concentração pode chegar aos 25%), a seguir vem a eau de parfum (12 a 18), a eau de toilette (8 a 12) e por fim as águas perfumadas (1 ou 2%). Quanto maior é a concentração, maior é a durabilidade do perfume, e por isso a eau de toilette tende a ser mais fresca e ligeira.

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Independentemente das palavras e percentagens escritas na embalagem, Lourenço Lucena deixa três conselhos:

– “Antes de comprar um perfume, deve experimentá-lo no pulso ou no antebraço. Aplicar um perfume na pele é diferente de aplicá-lo na roupa, porque aí não há uma reação química, que sucede consoante o índice de gordura que temos na derme. Não existem dois pHs iguais, e isso faz com que cada pessoa reaja de forma diferente ao mesmo perfume.”

– “Um perfume é uma escolha pessoal, uma representação da nossa personalidade, por isso não se deve usar sempre o mesmo em todas as ocasiões. Tal como não nos vestimos da mesma maneira todos os dias, devemos escolher o perfume em função do nosso estado de espírito, do dia que vamos ter e do tempo que faz. O perfume é mais um acessório na nossa representação pessoal.”

– “Nesta altura do ano privilegie perfumes mais frescos mas nunca os ponha se for para a praia porque, em contacto com o sol, o álcool e outras matérias-primas podem manchar a pele. Uma solução é borrifá-los na toalha ou simplesmente deixar os cremes solares e os protetores de cabelo, já de si perfumados, fazerem o seu trabalho.”

Antes de partir em expedição para a perfumaria mais perto de si, de punhos e antebraços destapados, veja as nossas sugestões.