O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, negou esta segunda-feira que tenha incentivado os jovens portugueses a procurarem emprego no estrangeiro, classificando de “mito urbano” uma afirmação nesse sentido.
“Há uns quantos mitos urbanos, um deles é que eu incentivei os jovens a emigrar. Eu desafio qualquer um a recordar alguma intervenção ou escrito que eu tenha tido nesse sentido”, disse Passos Coelho aos jornalistas, em Coimbra, à margem das comemorações dos 75 anos do Portugal dos Pequenitos.
O governante frisou que o que disse “foi que não podíamos estigmatizar aqueles que não tendo cá oportunidades, procuravam outras economias para poderem encontrar emprego”.
“É evidente que não os podemos estigmatizar, isso é um fenómeno que se compreende. Outra coisa é incentivar as pessoas a saírem do país, isso só o poderia fazer por boas razões, aqueles que têm programas de intercâmbio, aqueles que procuram a sua formação lá fora e que depois pretendem regressar com outra experiencia, com outra visão”, afirmou Passos Coelho.
“Mas isso é um beneficio, não é nada de negativo (…) Tomara eu que o país cresça a um ritmo de poder oferecer a todos os jovens portugueses uma perspetiva de emprego, é para isso que trabalhamos”, referiu.
O que Passos já disse
A primeira vez que o primeiro-ministro falou sobre a emigração de profissionais portugueses foi em dezembro de 2011, ou seja, poucos meses depois de tomar posse. Em entrevista ao Correio da Manhã, questionado sobre se aconselharia os “professores excedentários que temos” a “abandonarem a sua zona de conforto e a “procurarem emprego noutro sítio”, Passos Coelho respondeu: “Em Angola e não só. O Brasil tem também uma grande necessidade ao nível do ensino básico e secundário”.
“Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma: ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa”, explicou.
Mas as primeiras declarações polémicas sobre emigração são do secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, em outubro desse ano. No Brasil, o governante declarou que “se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras“. Instalada a polémica, Mestre tentou corrigir as declarações e revelou que falou com o ministro da tutela, na altura Miguel Relvas, para esclarecer tudo. “Não volto a falar sobre esse tema. Já disse a quem de direito no momento próprio e não volto a falar sobre esse tema que já está esclarecido junto de quem de direito”, disse.
O tema das migrações esteve presente esta segunda-feira no discurso que Passos Coelho proferiu no âmbito das comemorações do aniversário do Portugal dos Pequenitos, parque temático dirigido às crianças, propriedade da Fundação Bissaya Barreto.
Nas declarações à margem da sessão, o primeiro-ministro disse que Portugal, para além de uma sociedade que possa acolher mais migrantes, “tem de ter espaço” para que quem foi levado a emigrar em busca de melhores condições e emprego no estrangeiro possa regressar “e para evitar que outros que não desejam sair não sejam forçados a fazê-lo”.
“Não podemos deixar de pensar naqueles que sendo portugueses tiveram de procurar outros sítios para poderem encontrar uma oportunidade profissional”, alegou Passos Coelho.
Adiantou que os dados à disposição do Governo “mostram que há uma vitalidade na recuperação da economia que nos permite olhar para um dinamismo maior também na oferta de emprego”.
“Esperamos que ela se possa intensificar nos próximos anos justamente para tornar Portugal um país mais acolhedor para os que são de cá e um país que seja um destino preferencial para aqueles que nós precisamos que venham trabalhar em Portugal, viver em Portugal, na medida em que estamos a ficar uma sociedade demasiado envelhecida”, sustentou Passos Coelho.