Foram precisos 79 dias para haver fumo branco nas negociações para o governo regional da Andaluzia. O longo período de impasse foi quebrado na terça-feira, quando foi anunciado que o PSOE (vencedor das eleições de 23 de março com 35,4% dos votos) contará com o apoio do Ciudadanos, o quarto partido mais votado, com 9,3%.

À saída de uma reunião com a líder dos socialistas, Susana Díaz, o número um do Ciudadanos na Andaluzia, Juan Marín, disse que o encontro foi “bastante intenso mas muito clarificador, tendo havido um entendimento mútuo”. Segundo o diário espanhol El País, Marín acordou com Díaz um conjunto de 72 pontos em relação a medidas “contra a corrupção, pela regeneração democrática, garantias económicas e sobre o Estado-Providência”.

O acordo entre os dois partidos não é, ainda assim, totalmente certo – antes disso, Marín ira apresentar ao seu partido os resultados da sua conversa com Díaz, precisando necessariamente do apoio dos seus deputados para levar esta coligação para a frente. Apesar disso, a imprensa espanhola já dá este acordo como certo. E já se fala de sexta-feira como a data possível para a votação que poderá aprovar esta solução para o governo regional andaluz.

O Ciudadanos é um partido de centro-direita que surgiu na região da Catalunha em 2006. As eleições da Andaluzia foram a primeira vez em que o partido liderado por Marín concorreu noutra região e entretanto o Ciudadanos já é uma força política de dimensão nacional.

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Para trás ficou o Podemos, que na Andaluzia é encabeçado por Teresa Rodríguez. Ao El País, Rodríguez disse que “faltou sinceridade na negociação”. “Hoje tive de ouvir Díaz a dizer-me que as nossas posições são dogmáticas. Hoje é a primeira vez em que nos disse a verdade, que é que eles não gostam das nossas propostas”, disse Rodríguez. “Podíamos ter começado por aí e assim tudo teria sido mais simples.”

Governo do PSOE já foi chumbado três vezes

E, de facto, não foi simples. As eleições que confirmaram Díaz como a preferida dos andaluzes para liderar o governo da região mais populosa de Espanha foram a 22 de março. A vitória do PSOE não foi surpreendente: os socialistas têm uma forte tradição na Andaluzia, onde governam invariavelmente desde as primeiras eleições autonómicas, em 1982. Só que os resultados de março não deram uma maioria ao partido de Díaz, que conquistou 47 deputados – menos oito do que os 55 necessários para controlar metade do parlamento andaluz.

O que se seguiu foi um período de dois meses de negociações infrutíferas – facto confirmado quando o executivo socialista foi chumbado em bloco por toda a oposição (Partido Popular, Podemos, Ciudadanos e Esquerda Unida) em três votações distintas – a 5, 8 e 14 de maio.

Naquela altura, o calendário político pesava: a maior parte das regiões espanholas iriam a votos no dia 24 de maio para escolher os seus governos locais. Depois de conhecido os resultados das eleições autonómicas, onde foi confirmada a queda do PP (foi o partido mais votado, mas perdeu a maioria em todas as regiões, tornando-se refém de possíveis acordos entre os outros partidos) é que as negociações na Andaluzia tomaram proporções mais concretas.