Por um lado, ainda é demasiado cedo para declarar o óbito do bipartidarismo espanhol. Por outro, é seguro dizer que as vidas do Partido Socialista Obrero Español (PSOE, socialista) e do Partido Popular (PP, conservador) vão mudar radicalmente a partir de segunda-feira.

É pelo menos isso que apontam as últimas sondagens para as eleições autonómicas de Espanha, que vão acontecer este domingo. Apenas a comunidade de Castilha e Leão deverá repetir a maioria absoluta conseguida pelo PP em 2011. De resto, o partido de Mariano Rajoy está na calha para vencer as eleições em vários parlamentos regionais (Aragão, Castilla-La Mancha, comunidade Valenciana, Múrcia ou Extremadura). Só que, nestes casos, a vitória não é total. Se em 2011 conseguiram garantir mais de metade dos assentos parlamentares nestas regiões, no domingo deverão ficar aquém dessa marca.

Primeiro lugar nas eleições não garante governo

Além de votarem para a maior parte dos governos regionais, no domingo os espanhóis também escolhem quem querem à frente das suas autarquias. Aí, as maiores novidades surgem nas duas maiores cidades do país. Na capital, o movimento Ahora Madrid — liderado por Manuela Carmena e que agrega partidos de esquerda como o Podemos — aparece empatado com o PP nas sondagens. E em Barcelona a vitória parece certa ao Barcelona en Comú, grupo liderado pela ativista anti-despejos Ada Colau, que também conta com o apoio do Podemos. Apesar de tudo, tanto numa cidade como na outra, nenhum terá maioria absoluta.

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Assim sendo, tanto no caso das eleições autonómicas, como nas autárquicas, qualquer solução de governo terá de passar por coligações entre dois ou mais partidos. Pode até dar-se a eventualidade de o partido mais votado não conquistar o poder, caso os restantes cheguem a acordo para unir esforços e formar uma maioria. Se a realidade confirmar esta última hipótese, o PSOE terá razões para sorrir, pese embora o facto de as sondagens não lhes apontarem os melhores resultados para domingo. É que tanto os esquerdistas do Podemos como o partido de centro-direita Ciudadanos já fizeram saber que estão dispostos a falar com os socialistas num cenário pós-eleitoral.

Rajoy, por sua vez, deixou um recado aos espanhóis que outrora votaram no seu partido mas que agora podem sentir-se inclinados a votar noutros partidos, sobretudo no Ciudadanos: “Se uma pessoa votar noutro partido que não o PP, pode estar a votar no PSOE sem que disso se aperceba”.

Será mesmo a Andaluzia uma antecâmara do futuro espanhol?

Logo após as eleições para o governo regional da Andaluzia, onde o PSOE saiu vencedor mas sem uma maioria parlamentar, tentámos responder à seguinte pergunta aqui no Observador: “Serão as eleições da Andaluzia uma antecâmara do futuro espanhol?“.

Politicamente falando, a Andaluzia é um caso particular em todo o país. Desde as primeiras eleições para o governo regional da Andaluzia, em 1982, o PSOE saiu vencedor em todas as ocasiões menos numa. Há três anos, o PP recebeu votos suficientes para ficar em primeiro lugar mas não tantos quantos bastavam para formar uma maioria absoluta. Por isso, o PSOE trocou-lhe as contas e aliou-se à Esquerda Unida. Este foi o cenário em 2012.

Já em 2015, e depois das eleições de março, o PSOE andaluz ainda não conseguiu que o seu governo fosse aprovado no parlamento. A oposição (PP, Podemos e o Ciudadanos) votaram em bloco contra o executivo da socialista Susana Díaz a 5, 8 e 14 de maio. Está prevista uma nova votação para depois das eleições deste domingo, mas também já se fala na eventualidade de novas eleições.

Eleições legislativas fazem adivinhar impasse político

É neste impasse que a Espanha pode entrar logo após as eleições legislativas deste ano — ainda não há uma data oficial para a votação nacional, mas esta deverá acontecer entre outubro e novembro. As últimas sondagens da agência Barómetro CIS, realizadas no final de abril, colocam o PP à frente com 25,6% dos votos. Depois segue-se o PSOE (24,3%), o Podemos (16,5%) e o Ciudadanos (13,8%). Mas no início no do mesmo mês um estudo de opinião da Metroscopia colocava o Podemos em primeiro com 22,1%, depois o PSOE (21,9%), de seguida o PP (20,8%) e por fim o Ciudadanos (19,4%). A disputa é tão renhida que, neste último caso, o primeiro e quarto classificado distam apenas 2,7% um do outro.