David Neeleman, um dos rostos do consórcio que comprou a TAP, é um inovador nato. E escolheu o setor da aviação para fazer fortuna porque este era um setor que estava a precisar de inovação como nenhum outro. Fundou duas transportadoras nos EUA, uma no Canadá e outra no Brasil. Apesar disso, diz que “odeia voar“, o que está relacionado com um síndrome que lhe foi diagnosticado quando tinha mais de 30 anos.

Neeleman sofre de Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA), o que, apesar de como o próprio reconhece fazer dele uma pessoa muito desorganizada, também o ajuda a “ver o mundo de uma forma um pouco diferente“. Filho de um casal de norte-americanos, nasceu em São Paulo em 1959 e dedicou a sua vida profissional ao setor da aviação, porque este era um setor “com uma necessidade desesperada de inovação”. “Eu gosto de olhar para as coisas e perguntar ‘como podemos torná-las melhores, mais bem geridas, mais eficientes'”, afirmou numa entrevista em 2013 ao site Elite Daily.

“Eu sofro de síndrome de défice de atenção, portanto odeio voar – fico tão aborrecido“, confessou o novo dono da TAP. Foi por não ser um “grande fã de ler” que não parou enquanto não instalou ecrãs de televisão ao vivo em todos os bancos dos aviões da empresa de aviação que fundou”. Na altura, esse investimento nas televisões custava cerca de um dólar por cliente, mas Neeleman estava seguro de que “vamos conseguir obter muito mais do que um dólar por cada cliente se tivermos 36 canais de televisão ao vivo em cada lugar”. A estratégia resultou.

Fica aborrecido, contudo, quando viaja na concorrência – bem entendido. Porque quando viaja numa das suas transportadoras aproveita para falar com os clientes para saber o que gostariam de ver melhorado na experiência de voo.

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Neeleman não teve êxito imediato. Chegou a fundar empresas que foram à falência e, quando foi despedido da vetusta SouthWest Airlines, sentiu-se deprimido apesar da indemnização de 20 milhões de dólares que levou para casa. “Não conseguia sentir-me feliz com o que tinha”, apesar de não ter preocupações financeiras e poder dedicar-se à família. Foi nessa altura que o irmão mais novo recebeu um diagnóstico de PHDA e a mãe enviou-lhe um livro sobre o tema. “Claro que não consegui ler o livro todo, mas abri-o numa página em que dizia quais eram as 21 características de alguém com PHDA – eu tinha 20 dessas 21“.

Neeleman reconhece que ter PHDA torna difícil organizar as atividades e obrigações rotineiras como pagar as contas. Mas, ao mesmo tempo, isso dá-lhe o que o gestor chama um “hiper-foco”. Para quem sofre ou quem lida com pessoas que sofrem de PHDA, Neeleman deixa um conselho: “Encontrem uma paixão, algo que vos apaixone, e serão melhores nisso do que qualquer outra pessoa“.