Mil milhões de dólares, moda de luxo e um modelo de negócio inovador. Na liderança, José Neves – o português que começou a programar aos oito anos, lançou a primeira startup aos 19 e que aos 41 anos fez com que a sua terceira empresa fosse a primeira “unicórnio” (empresa que vale mil milhões de dólares) de origem portuguesa. Esta quinta-feira, o presidente da Farfetch venceu o Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa. E a distinção chegou pelas mãos do Presidente da República.
“É uma grande honra, porque é um prémio que reconhece o meu percurso profissional e que obviamente me traz orgulho, a mim e à minha equipa. Isto é o resultado de uma equipa inteira”, disse ao Observador.
José Neves foi um dos 201 candidatos à oitava edição dos prémios que a Cotec – Associação Empresarial para a Inovação promove para distinguir os portugueses que, pela sua capacidade empreendedora e inovadora, se destacaram fora de Portugal. Em 2015, a associação registou um recorde no número de concorrentes, oriundos de 35 países. França e Estados Unidos da América foram aqueles que reuniram o maior número de candidaturas.
“Há coisas na vida que, se quisermos mesmo fazê-las, temos mesmo de nos meter num avião e ir para fora. O mundo é cada vez mais global e, quer queiramos quer não, às vezes temos de sacrificar o nosso estilo de vida mediterrânico, o nosso bacalhau com broa, e metermo-nos num avião”, adiantou José Neves, que começou a programar aos oito anos, quando os pais lhe ofereceram um computador ZX Spectrum, no Natal.
A programação virou paixão a tempo inteiro, mas quando chegou a hora de decidir o rumo que daria à sua carreira, a Economia falou mais alto. José Neves queria ser patrão de si próprio e no segundo ano de licenciatura lançou a sua primeira empresa, a Grey Matter, na área do software. Soube-lhe a pouco. Em 1996, a paixão pela moda levou-o a lançar uma marca de calçado, a Swear, em Londres. Foi esse o ponto de partida para a Farfetch, em 2008.
“Queremos ser o número um neste setor e um dos nossos valores é sermos revolucionários. É essa a nossa missão de longo prazo”, afirmou José Neves.
O líder da Farfecth acrescentou que quem quer empreender tem de ter paixão pelo que faz e “pôr mãos à obra”. “Devem fazê-lo desde logo e depois ter paciência e resistência para enfrentar as dificuldades”, referiu.
Mais de 590 mil clientes em 188 países
A Farfetch emprega 636 pessoas em todo o mundo, sendo que mais de 300 trabalham em Portugal e 165 no Reino Unido. Fazem compras no segundo site de comércio eletrónico de moda de luxo mais de 590 mil pessoas, oriundas de 188 países e os maiores mercados são o norte-americano e o britânico. Além de Portugal e do Reino Unido, a empresa tem escritórios nos Estados Unidos da América, Brasil, Japão, Rússia e China.
A viver entre Londres e Porto, José Neves diz que gostaria de voltar a viver a tempo inteiro em Portugal, mas diz que não se sente “desenraizado”, porque a Farfetch tem uma presença muito grande no país.
“A figura do emigrante com a mala de cartão está cada vez mais distante, está completamente desatualizada. Temos de ver isto da mobilidade com pragmatismo. Nos Estados Unidos, a coisa mais natural do mundo é uma pessoa trabalhar em São Francisco e a seguir em Nova Iorque. Nós, em Portugal, se nos distrairmos na autoestrada vamos parar a Espanha. É evidente que isto em Portugal vai implicar trabalhar lá fora, mas vamos ver isso sem dramatismo”, disse.
Em maio, a Farfetch adquiriu a icónica boutique londrina “Browns”, com 45 anos de história, para misturar tecnologia com a experiência em loja e criar um conceito pioneiro na indústria. A operação fez parte da estratégia da empresa: focar-se na criação de uma estratégia de crescimento omnicanal e, no longo prazo, desenvolver uma plataforma tecnológica global que pretende mudar a experiência de retalho no futuro.
No mesmo mês, a startup de José Neves venceu a categoria “Killer Experience” dos Fashion Future Awards, pela forma como tem vindo a inovar e a melhorar a experiência dos clientes online e a relação com as lojas físicas.