Portugal deita plasma para o lixo, como quase todos os países do mundo, afirmou, esta quarta-feira, Leal da Costa. O secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, que está esta quarta-feira no Parlamento a ser ouvido na Comissão de Saúde, fez um balanço da utilização do plasma em Portugal e acrescentou que nunca se conseguirá reduzir a zero o desperdício de plasma, mesmo com o programa estratégico que será lançado. Mas deixou um apelo aos portugueses: “continuem a dar sangue, porque é bem utilizado”.

“Como em praticamente todos os países do mundo há excedentes de plasma que têm de ser destruídos. E Portugal nunca conseguirá utilizar integralmente todo o plasma”, começou por dizer o governante, reiterando mais adiante que “há desperdício de plasma e não há condições para que não haja desperdício. Esse desperdício nunca vai poder ser zero.”

Leal da costa, que respondeu pelo Ministério da Saúde às questões a propósito da reportagem da TVI que dá conta do negócio de milhões e do desperdício do plasma em Portugal, começou por afirmar que “há alguma confusão sobre qual a utilidade do plasma”. E aprontou-se a esclarecer.

Portugal colhe anualmente 400 mil unidades de plasma, fruto da doação benévola dos portugueses, e não utiliza mais do que 72 a 77 mil unidades. Isto leva a que haja um “excedente enorme” que fica armazenado por períodos de três anos. Neste momento rondarão as 200 mil unidades. E o que acontece é que ao fim desses três anos “há plasma que tem de ser destruído”, adiantou Leal da Costa.

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Então se colhe mais do que utiliza, porque é que Portugal tem de importar plasma? Por que o plasma português que é usado em transfusões (as tais mais de 70 mil unidades) é o inativado – que o país começou a inativar a partir de dezembro de 2014 – e o que Portugal importa é o fracionado – ou seja, aquele que permite obter medicamentos derivados do plasma, que são administrados a doentes hemofílicos, queimados, com VIH/Sida ou cancro, por exemplo.

Mas porque é que as autoridades nacionais não fracionam aquele que está armazenado? Porque “não tem condições”, acrescentou o governante. E para resolver esse problema, o Ministério da Saúde apresentou, na semana passada, o Programa Estratégico Nacional de Fracionamento de plasma humano 2015-2019 e já foi lançado um concurso, depois de outros terem sido impugnados, para a partir de 2016 Portugal começar a fracionar o plasma.

“Portugal precisa de utilizar um fracionador internacional. Pode nem ser uma companhia privada. Podemos ter acordos com laboratórios públicos. Quando este processo estiver oleado e conseguirmos ter uma rotina de fracionamento que inclua todos os hospitais nacionais ou a maioria estaremos em condições de aproveitar a quase totalidade do pasma. Mas haverá sempre remanescente que não poderá ser utilizado”, avançou Leal da Costa.

O governante frisou porém que o plasma “tem uma utilização muito precisa” e até está a ser “menos frequentemente utilizado em Portugal” e sublinhou que “o que é mais importante guardar são os glóbulos vermelhos e as plaquetas. O plasma é sempre um remanescente, menos usado”. E deixou ainda um apelo: “é muito importante que não se gere na opinião pública a ideia de que o sangue que é doado não é utilizado. Continuem a dar sangue e acreditem que o seu sangue é bem utilizado e não é porque não podemos utilizar a totalidade do plasma que esse sangue não é utilizado”, rematou.

“Não tenho nada contra a Octapharma, mas não gosto de monopólios”

Minutos antes, já o ministro Paulo Macedo tinha sido confrontado pela deputada bloquista Helena Pinto sobre o negócio do plasma e sobre o monopólio da Octapharma. Sobre esta matéria, Paulo Macedo respondeu que “foi ontem lançado um concurso para um conjunto de derivados” e que “a outra parte irá ser detalhada e será lançada”.

Em relação à Octapharma, o governante afirmou que não tem nada “contra a Octapharma, nem contra nenhuma identidade”, mas prosseguindo dizendo que não gosta de “monopólios”, “nem de abusos de posições dominantes” e por isso “agimos para tentar corrigir esses factos.”, concluiu Macedo, dando ainda conta de que a faturação da Octapharma caíram de 46 milhões, em 2009, para 24 milhões em 2014. “A posição está a diminuir”, rematou.

A farmacêutica Octapharma tem sido notícia nos últimos meses, mas por outros motivos. Em fevereiro, o administrador do laboratório, Paulo Lalanda Castro, foi constituído arguido no âmbito da Operação Marquês. Recorde-se que o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, foi presidente do Conselho Consultivo deste grupo farmacêutico para a América Latina.