Um rapaz e uma rapariga numa viagem de carro ouvem música em silêncio. Passado um quarto de hora ela pergunta: “Então mas ninguém canta?” Bem vista a expressão até pode servir para designar qualquer música instrumental em que não haja cantoria pelo meio. A imagem aplica-se bem ao acervo musical dos Mogwai, produzido ao longo dos últimos 20 anos. O aniversário é celebrado com uma sequência de espetáculos por toda a Europa, que inclui a passagem pelo Passeio Marítimo de Algés a 11 de julho, última noite do NOS Alive. Esta será a oitava atuação no nosso país onde se estrearam em 1999 no festival Paredes de Coura.
Formaram-se em 1995 em Glasgow, na Escócia, pela mão de Stuart Braithwaite, Martin Bulloch e Dominic Aitchison. Hoje são cinco, com Barry Burns e John Cummings. A longevidade do quinteto escocês e o seu atual estado de maturação tornam evidente qualquer metáfora relacionada com a bebida nacional escocesa. Nunca se deixaram evaporar e continuaram a gravar discos ao mesmo tempo que assinavam composições para bandas sonoras de filmes e séries de televisão como “Les Revenants” onde se ouve um tema chamado “Portugal”. No enigmático “Vanilla Sky” podemos escutar “Tracy” numa remistura do francês Kid Loco e incluída em “Kicking a Dead Pig: Mogwai Songs Remixed” de 1998.
Para assinalar as duas décadas de carreira foi anunciado há dias o lançamento de “Central Belters”, a edição especial de uma caixa com três CD onde estarão reunidos os melhores momentos e também algumas raridades. Ao mesmo tempo publicaram um vídeo novo para um tema de 1997, “Helicon 1”, faixa de abertura da coletânea que vai chegar ao mercado em outubro:
Não é nada fácil qualificar a música dos Mogwai com palavras. A substância que usam para desenhar paisagens sonoras não vem no dicionário. Há de tudo na imprensa especializada ao longo destes 20 anos: space-rock, atmosférica, experimental e o mais recorrente pós-rock. Este rótulo é o que eles menos aceitam. Preferem ser incluídos na faixa mais larga do rock, puro e simples.
“Young Team” e “Come On Die Young” são os títulos dos dois primeiros álbuns da banda e uma clara referência à cultura de gangues vivida em Glasgow no final do século passado. Alguns músicos tinham alcunhas como “Plasmatron” e “Bionic” comprovando o seu apego às séries de banda desenhada. Braithwaite continua a comprar livros do Batman e uma vez até mandaram fazer uma série de t-shirts com um logotipo inspirado no herói de Gotham. Ficou conhecido como Batcat graças à fusão aparente do desenho do morcego com a cabeça de um gremlin. Na lista de favoritos da banda encontramos robôs, cães e gatos, o Celtic de Glasgow, os filmes da saga “O Padrinho” e a inevitável Irn Bru (diz-se “iron brew” com sotaque das highlands). É um refrigerante com cafeína e quinino, conhecido como a outra bebida nacional da Escócia.
Os Mogwai inventaram uma arquitetura sonora quase sobrenatural que é capaz de provocar emoções fora do alcance dos ouvidos mais habituados à pop. Estiveram na edição do ano passado do Primavera Sound, no Porto, e regressam desta vez para atuar no palco Heineken do NOS Alive a 11 de julho. Em noite de celebração é de contar com uma visita guiada pelos principais êxitos da carreira construída ao longo dos últimos 20 anos pela banda escocesa. Sublime e apocalíptica.