Quando lançaram o primeiro single foram catalogados na divisória do noise pop. O pequeno disco de vinil com sete polegadas de diâmetro trazia no lado “B” uma versão de um tema inédito dos Pink Floyd, escrito por Syd Barrett. Estávamos em 1984, o CD já existia no Japão mas o mercado musical ainda vivia tempos de ouro com os formatos de som analógico. O título da canção “Upside Down” anunciava uma reviravolta na cena pop do Reino Unido entretanto confirmada com a edição de “Psychocandy”, o álbum de estreia dos The Jesus and Mary Chain. Foi há 30 anos, quando já andava muita gente a entrar nos domínios da eletrónica, que surgiu uma banda capaz de manter vivo o imaginário punk dos Sex Pistols ou dos Ramones. As guitarras amplificadas, a distorção e o ruído eram mais do que uma afirmação de estilo. Eram a evidência do descontentamento e de um estado de revolta latente.

Os irmãos Jim e William Reid começaram a escrever canções no final da década de 1970, inspirados pelos som dos The Velvet Underground e dos Sex Pistols. Estiveram ambos desempregados durante cinco anos e aproveitaram o tempo para conceber e aperfeiçoar a estética sonora e visual da banda. Em 1983 enviaram para as editoras as primeiras gravações caseiras e dois anos depois estavam a lançar o LP que dá mote à atual digressão “Psychocandy Live”. O espetáculo inclui as 14 canções do disco original, mais o extra “Some Candy Talking” adicionado ao álbum a partir de 1986. Sem prejuízo de outros temas de sucesso, vêm tocar na última noite do festival realizado no Passeio Marítimo de Algés, no sábado 11 de julho. Já estiveram em Portugal sete vezes, a primeira foi em dezembro de 1988 quando tocaram em Lisboa e no Porto.

Lançaram seis discos até à rutura em 1999, num percurso por muitos considerado descendente em termos de criatividade e caráter. A ressurreição dos The Jesus and Mary Chain ocorreu na edição de 2007 do festival Coachella durante a atuação no palco principal a 27 ​​de abril. Traziam uma convidada especial que os acompanhou a cantar o tema “Just Like Honey”. Era a atriz Scarlett Johansson, protagonista do filme “O amor é um lugar estranho” (“Lost in Translation” no original) de Sofia Copolla que incluiu a famosa canção na banda sonora:

A primeira atuação ao vivo após a reunião aconteceu de facto na véspera, perante uma audiência mais reservada em Pomona, na Califórnia, a cerca de 150 quilómetros de Indio onde tem lugar o festival Coachella. O regresso aos palcos no Reino Unido aconteceu algumas semanas depois no festival Meltdown que ocorre em Londres, todos os anos, no mês de junho. Em 2012 promoveram a “Reunion Tour”, percorrendo boa parte dos Estados Unidos da América e Canadá. A digressão incluiu ainda a realização dos primeiros espetáculos na China, em Pequim e Hong Kong, e na cidade de Tel Aviv em Israel.

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Ficaram para trás os loucos anos 1980 e as detenções por posse de drogas ilegais. Jim Reid confessou na altura que também consumia LSD. Os primeiros espetáculos chegavam a durar menos de 20 minutos, com os músicos movidos a anfetaminas a tocar de costas para a plateia. O público atirava-lhes garrafas e o que mais estivesse à mão, numa imagem de violência e tumulto que rapidamente levou a imprensa a identificá-los como “os novos Sex Pistols”. Um elogio, porque os irmãos Reid sempre foram grandes apreciadores da banda de Syd Vicious e John Lydon. Na sequência de vários desacatos chegaram a ser oficialmente proibidos de tocar ao vivo em diversas cidades do Reino Unido.

Poucas bandas tiveram um efeito tão marcante na cultura musical da época. Para muitos o grupo escocês foi capaz de mudar a face da pop com apenas um disco. A grandeza de “Psychocandy” perante tudo o que veio a seguir faz pensar que os The Jesus and Mary Chain começaram pelo fim. Fizeram o melhor na estreia e podiam ter ficado logo por aí. O lugar na História já estava assegurado com uma coleção de canções raras que vamos poder escutar ao vivo no sábado, 11 de julho, no festival de Algés.

thejesusandmarychain.uk.com / NOS Alive