Os ânimos aquecem e a reunião da Comissão Política do PS que vai fechar as listas dos candidatos a deputados ainda nem começou. À chegada ao Largo do Rato, os chamados seguristas deixaram claro ao que vêm: “É o dia da prova dos nove sobre a unidade do partido”, começou por dizer António Galamba, ex-membro do Secretariado Nacional de António José Seguro. Álvaro Beleza, por outro lado, que tem o seu lugar garantido como elegível na lista de Lisboa, admitiu aos jornalistas que pode até não aceitar o lugar.

Tudo parece depender do peso que, no final da reunião, e feitas as contas, os seguristas vão ter nas listas do partido para as legislativas.

Falando aos jornalistas à entrada da reunião, António Galamba apressou-se a deixar um recado enfurecido ao secretário-geral que, em setembro, destronou António José Seguro sob o lema de ser a pessoa certa para assegurar a unidade do PS: “A direção nacional tem estado a lutar pela sua verdade sobre a unidade do partido – uma verdade que não corresponde à realidade dos factos”. A verdade é que, como sublinhou Galamba, entre os 19 cabeças de lista confirmados por Costa, só um (Pedro do Carmo, Beja) pertence à ala segurista.

O critério aritmético que tem sido usado pela direção socialista é a bitola de 2011 – “onde as listas foram elaboradas por José Sócrates” – e não o critério de que António José Seguro “teve 30,6% de votos nas primárias”, alertou o ex-dirigente socialista. Um critério errado, segundo o ex-secretário nacional de Seguro, mas que faz a direção nacional socialista afirmar que as listas agora em ponderação terão, no total, mais nomes ligados a Seguro do que as listas de 2011.“Esse critério é quase o mesmo que o termo de comparação usado pelo primeiro-ministro Passos Coelho para falar do desemprego, é errado”, atirou ainda António Galamba.

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As palavras-chave são união e mobilização. Para Galamba, que até ver não consta de nenhuma das 19 listas do PS para as legislativas, ainda nada está perdido – “até ao lavar dos cestos é vindima”, disse – mas uma coisa é certa, a reunião desta noite promete ser quente. “É o dia da prova dos nove” para saber se Costa consegue ou não a unidade do partido.

Álvaro Beleza ainda pode recusar lugar

Também Miguel Laranjeiro, ex-secretário nacional do PS para a Organização, também excluído à partida das novas listas, quis falar em “unidade” e em “mobilização”. “A reunião ainda agora vai começar, por isso vamos ver se António Costa consegue unir o partido”, disse, visivelmente mais calmo do que António Galamba, e acrescentando que “não” tinha recebido qualquer sinal da parte do líder do partido de que iria entrar nas listas. Depois de as federações distritais preencherem dois terços das listas, o secretário-geral ainda tem uma quota de um terço para ocupar nas listas.

Na mesma linha mas mais incisivo foi Álvaro Beleza, braço direito de Seguro, que esteve nas negociações das listas com a direção do PS, que deixou claro aos jornalistas que, apesar de ter um lugar assegurado no 11º posto da federação de Lisboa, ainda não é certo de que aceite o lugar. Tudo parece depender do desfecho da reunião desta noite, que é como quem diz, do peso que os seguristas terão no cenário global. “Houve coisas que correram bem e outras menos bem, mas ainda vamos a tempo de corrigir essas coisas”, disse.

“O partido tem de ser inclusivo, plural e independente das sensibilidades”, continuou, rejeitando a ideia de que o PS seja um partido de “fações” e que, por isso, tenha de “respeitar as pessoas pelo mérito e por tudo aquilo que deram até aqui ao partido”. O objetivo, diz, é “unir e somar”, não dividir.