Marcelo Rebelo de Sousa acredita que tanto Paulo Portas, como Pedro Passos Coelho “estiveram bem” nas recentes entrevistas que deram à SIC e à TVI, respetivamente, mas falta uma coisa à coligação: “Falta um discurso de futuro”.

O antigo líder social-democrata comentava assim na TVI as prestações do primeiro e do vice-primeiro-ministro. Para Marcelo, se Paulo Portas, como “homem da comunicação social” que é, “esteve naturalmente bem”, até na forma “elegante” como “assumiu a responsabilidade” da crise do “irrevogável”, Passos acabou por falhar numa coisa: “Falou muito bem do passado, mas não falou do futuro”.

“A verdade é que a ideia da coligação é a seguinte: nós cumprimos e safámo-nos nesta altura e vocês [portugueses] vão cair na esparrela e na boca do lobo que é voltar ao passado com estes despesistas [o PS]. Mas é preciso esperança e o programa eleitoral precisa de mais social. A coligação tem de ir mais longe nesta reta final”, defendeu o comentador.

Para Marcelo, se Portas apresenta “o produto de uma forma mais leve e mais saborosa, com um toque mais social, com um tom mais empático”, Passos é “mais condensado” e isso pode ser “curto” para os portugueses. Exemplo disso, acrescentou o professor, foi a “reposta taxativa” do primeiro-ministro à pergunta sobre se estaria disposto a baixar o IVA na restauração. “Pires de Lima tinha aberto uma portinha”, mas Passos fechou-a com toda a força e deu uma “explicação muito discutível” sobre a relação (ou falta dela) do IVA a 23% na restauração com a crise no setor. Passos tinha dito que uma coisa não tinha nada que ver com outra, Marcelo acredita que, “apesar de não ser um reflexo direto”, acaba por ter muita influência.

Marcelo Rebelo de Sousa falou, ainda, do discurso de Cavaco Silva, que, na quarta-feira, tinha apelado ao espírito de consenso dos partidos num cenário em que nem PS, nem PSD/CDS conseguem a maioria absoluta. Ora, para o comentador, o Presidente da República “esteve bem” e foi “inteligente”, apesar de todas as críticas que lhe foram apontadas, ao não “assumir a responsabilidade” de ter de encontrar uma solução que apenas cabe aos partidos procurar. E se os partidos não se entenderem e Cavaco Silva, como tem sido especulado, não der posse ao novo Governo? Seria do “domínio do cinema de terror” já que o país entrava em 2016 em regime de duodécimos, com um “défice galopante”, e sem solução política à vista.

Apesar dos elogios neste processo, Marcelo acredita que Cavaco Silva não esteve tão bem quando comentou as declarações do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que disse, numa entrevista ao diário belga Le Soir, que Portugal (com Passos Coelho à cabeça) foi um dos países, com a Irlanda e a Espanha, que se opuseram a que um alívio da dívida pública grega fosse discutido antes de outubro, sugerindo que isso se deveu ao calendário das eleições legislativas nesses três países. Na resposta, o Presidente da República veio em defesa do Executivo de Passos e dizer que as acusações de Juncker “não faziam sentido”. Ora, Marcelo Rebelo de Sousa acredita que “Cavaco foi mais papista do que o papa, quis ajudar Passos e antecipou-se às explicações” do próprio primeiro-ministro. E, entre críticas também às palavras do presidente da Comissão Europeia, acrescentou ainda: “É evidente que [a posição negocial de Portugal, Irlanda e Espanha] tem a ver com as opiniões públicas” dos países.

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