O cinema está recheado de casos em que uma pessoa menos atraente, não só física como intelectualmente, acaba com outra bem-sucedida e digna de capa de revista. É o caso do filme Uma Azar do Caraças em que Seth Rogen, no papel de um rapaz desempregado e que passa o dia à procura de celebridades nuas na internet, conquista Katherine Heigl, uma jornalista de sucesso.

Embora possa parecer tema de comédia romântica de sábado à tarde, este género de história é tão plausível que rende a estes filmes grandes sucessos de bilheteira. O mesmo se aplica à literatura. No romance Orgulho e Preconceito de Jane Austen, Mr. Darcy repudia inicialmente a aparência de Elizabeth Bennet, chegando a dizer: “Ela é tolerável, mas não bonita o suficiente para me tentar”. Ele é muito rico, ela não, sendo considerada de uma condição social inferior.

Para os psicólogos evolucionistas, os pensamentos iniciais de Mr. Darcy fazem todo o sentido. É que o facto de ser bonita e de boas famílias melhora as probabilidades de passar bons genes aos filhos. A beleza e a simetria física são sinais da saúde e da genética de um parceiro, já o estatuto social e a riqueza tornam mais provável que as futuras crianças sobrevivam à idade adulta.

Vários estudos e a mera observação mostram-no: as pessoas têm tendência a querer parceiros iguais a si e com o mesmo background. Regra geral, pessoas atraentes, com um nível de educação elevado e bem pagas, casam com pessoas com essas mesmas qualidades, o que leva os economistas a defenderem que esta é uma das razões pela qual há tanta disparidade económica.

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Mas quão superficiais são as pessoas ao avaliar um potencial parceiro? Para estudarem este tema, psicólogos da Universidade do Texas pediram a estudantes que classificassem quão interessantes eram, romanticamente, as pessoas do sexo oposto da sua turma.

No início do semestre, os alunos concordaram quase todos sobre quem era mais desejável. Mas quando lhes foi feita a mesma pergunta três meses mais tarde, ou seja, depois de passarem um semestre numa sala pequena, as suas opiniões variaram muito.

Lucy Hunt, que publicou o estudo juntamente com Paul Eastwick, professor assistente de desenvolvimento humano e ciências familiares, disse ao The New York Times que “as perceções de valor de um parceiro mudam quanto mais tempo as pessoas estiverem juntas“, acrescentando que “às vezes uma pessoa pode ter o final feliz de Seth Rogen, em que uma pessoa pouco atraente torna-se bastante atraente para outra”. No entanto, o oposto também acontece: uma pessoa que inicialmente era muito atraente pode perder a graça com o tempo.

Estas mudanças de atitude, segundo Paul Eastwick, significam que há menos perdedores no jogo da atração, porque nem toda a gente procura o mesmo. “A partir do momento em que o consenso sobre quem é bonito diminui, a competição também diminui, porque a pessoa que eu penso que é a mais desejável pode não ser a que outra pessoa acha.”

Para testar este efeito, os investigadores do Texas juntaram-se a Eli Finkel, professor de psicologia na Northwestern University, num estudo que foi publicado no mês de junho na Psychological Science.

O estudo incidiu sobre casais que estavam casados há cinco décadas e sobre outros que tinham acabado de começar a namorar. Alguns já se conheciam muito tempo antes de terem começado a relação, outros tinham começado uma relação mal se conheceram. Depois de serem gravados a falar sobre o seu relacionamento, todos foram classificados em níveis de atração física por um grupo de jurados que viram cada parceiro separadamente.

Quando as classificações de parceiros foram comparadas, houve um padrão que saltou à vista, baseado no tempo. No caso de terem começado a namorar um mês depois de se conhecerem, ambos os membros do casal eram igualmente atraentes fisicamente. Mas, por oposição, se foram conhecidos durante muito tempo ou até amigos antes de serem um casal, então a escolha de uma pessoa muito atraente recaiu sobre alguém não tão atraente.

Uma questão de “slow love”

Helen Fisher, antropóloga do Kinsey Institute, diz que a mudança gradual nos sentimentos ocorre muito frequentemente.

Recuando um pouco no tempo, veja-se esta pesquisa feita em 2012, onde um grupo de pessoas foi confrontado com esta pergunta inspirada num poema de Christopher Marlowe do século XVI: “Quem pode dizer que amou sem ter amado à primeira vista?”

Ao que parece, muita gente. Nessa pesquisa, 33 por cento dos homens e 43 por cento das mulheres responderam que sim quando questionados se já se tinham apaixonado por alguém que não achavam atraente inicialmente. Helen Fisher apelida este processo de slow love (amor lento) e diz que se está a tornar mais frequente, uma vez que as pessoas estão a demorar mais tempo até casarem.

“Toda a gente anda cheia de medo que conhecer alguém online esteja a reduzir o valor de um parceiro a coisas superficiais como a beleza”, diz a antropóloga, mas isso é só o início do processo: “Assim que conhece alguém e começa a saber pormenores sobre essa pessoa, o seu valor enquanto parceiro está sempre a mudar.”

Quando as pessoas que participaram na pesquisa da Universidade do Texas foram questionadas sobre o que tinha levado os seus sentimentos a mudar, as respostas mais frequentes passaram por “grandes conversas”, “interesses em comum” e “sentido de humor”. Os mesmos fatores que levaram Mr. Darcy a mudar o seu coração relativamente a Elizabeth Bennet.