O otimismo relativo nos mercados financeiros nos últimos meses, que se reflete na queda dos juros e dos prémios de risco da dívida de países como Portugal, pode estar a negligenciar riscos importantes para as economias europeias, incluindo a economia nacional. O aviso está num relatório da CMVM divulgado quinta-feira, que mostra uma preocupação especial com o impacto da queda do preço do petróleo em países como Angola que, além de ser um país para onde Portugal exporta, é onde estão muitos portugueses a trabalhar que, se voltarem, podem “criar pressão” sobre a Segurança Social e “travar a recuperação que é, já de si, frágil“.

“A queda dos preços do petróleo e alguma instabilidade geopolítica tiveram um efeito no otimismo de alguns dos clientes mais recentes e mais importantes, levando a uma forte queda das exportações de Portugal para vários países”, diz a CMVM no seu Risk Outlook. O problema é que “até ao momento, a economia portuguesa ainda não conseguiu contrabalançar” este tropeço de economias como a angolana, “não tendo sido capaz de conquistar quota de mercado noutros países”.

Além dos riscos para a atividade exportadora, os economistas da CMVM estão preocupados porque “nos últimos anos, muitas empresas portuguesas direcionaram a sua atividade para Angola ou Brasil, para tentar explorar o potencial dessas economias e atenuar o impacto da procura interna fraca”. Assim, se a situação não se inverter “rapidamente, isto poderá levar a uma erosão adicional dos lucros das pequenas e médias empresas e levar a um regresso significativo de trabalhadores.

“Com o atual ritmo baixo de criação de emprego em Portugal, isto poderá criar uma tensão adicional na Segurança Social e poderá penalizar a recuperação numa economia que “é, já de si, frágil”, escrevem os economistas da CMVM. E há ainda, claro, as dificuldades no que diz respeito ao repatriamento de capitais que, “aliados à desvalorização do kwanza, são fontes adicionais de preocupação para as empresas portuguesas que são altamente dependentes do mercado angolano”.

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Presidentes das empresas queixam-se de pouca procura

Para os presidentes das empresas portuguesas, contudo, a principal preocupação é a falta de procura para os bens que produzem e para os serviços que prestam. Numa altura em que “os gestores estão a usar cada vez mais os seus próprios recursos para investir, recorrendo menos ao crédito bancário”, a CMVM destaca, contudo, que existem “perspetivas positivas para o mercado de trabalho“.

Numa análise global, porém, os economistas da CMVM dizem que “neste momento, a economia portuguesa parece estar a arrastar-se no caminho [da recuperação], incapaz de tirar todo o proveito desta combinação de preços do petróleo baixos e desvalorização do euro