Para a coligação PSD/CDS, a redução da taxa de desemprego anunciada esta quarta-feira pelo INE é “um sinal de esperança” e fez desta quarta-feira um “dia histórico”. Mas para o PS, esse festejo não passa de um embuste com olhos postos nas eleições. Em declarações aos jornalistas, a socialista Ana Catarina Mendes acusou o Governo de estar a colocar desempregados em ocupações de uma semana para que estas desapareçam das estatísticas. UGT não concorda com o PS.

“Nunca como hoje o estado foi tão importante na criação de emprego e na redução do desemprego. Não tem a ver com atividade económica, mas com a capacidade que este Governo tem de fabricar estatísticas com fundos estruturais europeus, para com isso criar a ilusão de que estamos com mais emprego em Portugal”, acusou.

Para a socialista estão em causa vários fatores. Além da forte emigração – para o PS há cerca de 500 mil desempregados – há mais desencorajamento, mas sobretudo, disse, houve um “aumento brutal dos estágios – fala-se em mais de 70 mil estágios – significa retirar estas pessoas das estatísticas”.

Perante esta “ilusão”, disse, este é o “Governo responsável pela maior destruição de sempre do emprego”. E deixou a promessa: “Tudo faremos para que haja políticas de emprego, para que não criem ilusões, mas que criem esperança de voltarem a ter trabalho e proteção social”.

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Se esta é a leitura do partido, a leitura da UGT é bem diferente. Carlos Silva considera que estes dados do INE são “bons” e que deve mostrar a “satisfação” pela descida da taxa de desemprego. O sindicalista diz que tem “consciência” de que há muitos emigrantes e muitos desempregados que não entram para as estatísticas, mas que não se devem pôr em causa os dados oficiais. “Não temos de estar com lutas partidárias”, defendeu.

“Há menos desempregados. Se o número baixou, é bom que revelarmos a nossa satisfação”, disse, acrescentando “não vale a pena esgrimir os números oficiais” uma vez que se “o INE, que é respeitado, entendeu apresentar um número que baixa, [então] tem de se revelar satisfatório”, finalizou.

Carlos Silva estava num encontro com o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Mota Soares, que considerou os dados divulgados como “um sinal de confiança e de esperança” para quem ainda está sem trabalho. Aos jornalistas, frisou que  “Portugal deu a volta” e tem agora uma taxa de desemprego inferior à de 2011, ou seja, uma taxa “que pela primeira vez está muito próxima da taxa de desemprego da média [da zona] euro”.

PCP diz que taxa de desemprego não reflete realidade

O PCP considerou que a taxa de desemprego agora anunciada de 11,9% no segundo trimestre não reflete a realidade do mercado de trabalho, falando em números “mascarados” que ‘esquecem’ os 500 mil portugueses que foram obrigados a emigrar.

“Os números do desemprego refletem cada vez menos a realidade do mercado de trabalho”, afirmou Jorge Cordeiro, membro do Secretariado e da Comissão Política do PCP, numa declaração na sede do partido, em Lisboa.

Pois, acrescentou, não é possível olhar para estes números sem lembrar os “500 mil portugueses que foram obrigados a emigrar”.

Jorge Cordeiro explicitou ainda que a este meio milhar há ainda que somar os 250 mil inativos que desejariam trabalhar e que não contam para a estatística, os 240 mil que estão em situação de subemprego.

“O Governo anuncia do ponto de vista de resultados uma redução de 108 mil desempregados no último ano, queríamos lembrar que os números da emigração foram de 140 mil. Poder-se-ia dizer que nem sequer corresponde ao número de portugueses que foram forçados a emigrar”, referiu.

Falando numa “taxa mascarada”, Jorge Cordeiro estimou que se todos estes portugueses fossem contabilizados, a taxa de desemprego seria “muito superior a 30%”.

Segundo estimativas divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego fixou-se nos 11,9% de abril a junho, menos 1,8 pontos percentuais do que no trimestre anterior e 2,0 pontos percentuais abaixo do trimestre homólogo de 2014.

No segundo trimestre deste ano, o INE aponta para uma diminuição trimestral de 13,0% e uma diminuição homóloga de 14,9% da população desempregada (menos 92,5 mil e menos 108,5 mil pessoas, respetivamente), para um total de 620,4 mil pessoas.

CGTP condena “destruição” de 220 mil postos de trabalho em quatro anos

A CGTP considerou que os números da taxa de desemprego divulgados não correspondem à taxa real e acusou o Governo de ter promovido uma “destruição brutal” de mais de 220 mil postos de trabalho nos últimos quatro anos.

“Passados quatro anos, a destruição de postos de trabalho foi brutal. Em comparação com o período homólogo de 2011, quando este Governo entrou em funções, foram mais de 220 mil postos de trabalho destruídos. O Governo diz que a descida é histórica, mas o que é histórico é a destruição de emprego”, disse Armando Farias à agência Lusa.

De acordo com as contas elaboradas pela CGTP, os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) deixam de fora 500 mil emigrantes, 242 mil trabalhadores inativos disponíveis e 500 mil em situação de emprego e subemprego.

O dirigente sindical referiu igualmente que cerca de dois terços dos empregos criados são precários e que o número de desempregados de longa duração continua a aumentar, fixando-se já nos 64%.

Acresce ainda que “mais de 50% dos trabalhadores atualmente no desemprego não têm, nem subsídio de desemprego, nem subsídio social de desemprego”, segundo o responsável.

Referiu ainda que uma parte do emprego criado prende-se com estágios profissionais, que contam atualmente com cerca de 100 mil trabalhadores. Em relação aos trabalhadores por conta própria, e numa comparação com o mesmo período do ano passado, houve uma quebra de 6,7%, de acordo com a CGTP.

“Do nosso ponto de vista, e olhando com algum rigor, não há crescimento económico sustentado. Há algum emprego que é precário o que significa que parte desses trabalhadores voltarão novamente a situações de desemprego e o que se revela aqui com maior relevância é que neste período de quatro anos foi brutal esta destruição de emprego”, sublinhou.

No entender do dirigente sindical, “enquanto não forem resolvidos os principais problemas do ponto de vista de política macroeconómica — o défice e a dívida — não vamos ter crescimento económico sustentado [… ]e o problema mantém-se, porque o problema do desemprego é estrutural”.