Era uma vez um dramaturgo chamado Aristófanes. Há muito, muito tempo (mais precisamente no século III a.C.), Aristófanes vivia na Grécia e era responsável por uma biblioteca.

Artistófanes estavafartodelerostextosporqueninguemusavaespaços.

Entendeu? O dito homem estava farto de ler os textos, porque ninguém usava espaços. Ninguém distinguia letras maiúsculas e minúsculas ou separava ideias, ou dava mais ou menos ênfase às ideias com sinais de pontuação. Afinal, estávamos no tempo dos discursos retóricos, da persuasão na voz falada, não escrita. Por isso, separar palavras não era uma prioridade da linguística, conta o site About Education.

De cada vez que alguém pegava num documento para o ler, tinha de fazer uma ginástica capaz de trocar os olhos a qualquer um. Cansado deste esforço, Artistófanes perguntou aos autores: “E se, a partir de agora, todos começássemos a usar sinais de pontuação?”. E não, não usou pontos de interrogação: era antes um sistema de pontos que indicava ao leitor a duração da pausa entre frases. Era um sistema ineficaz, em comparação com o de hoje, mas representou uma revolução na escrita, explica a BBC.

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Nem toda a gente seguiu a ideia de Artistófanes. E a situação piorou quando os romanos invadiram a Grécia e estragaram tudo – incluindo os modestos pontos do dramaturgo. Só muitos séculos mais tarde é que a invenção de Artistófanes voltou a ser usada, desta vez como arma de arremesso do Cristianismo, que ameaçava os pagãos romanos nos séculos IV e V d.C..

Os cristãos vieram instaurar novos sistemas de transmissão de ideias, diz o New Yorker. Era uma revolução: os pagãos romanos continuavam fiéis ao discurso oral, mas os cristãos lançaram-se no poder da palavra escrita. E isso implicava a adoção de um modo de escrita mais eficaz. Havia de tudo, até sinais ornamentados e símbolos que representavam parágrafos.

É que os cristãos não precisaram de colocar a Bíblia nas mãos do mundo para perceber que a pontuação ia ser essencial para que as mensagens não fossem deturpadas.

Há dúvidas sobre a eficácia da pontuação na Bíblia. Um dos exemplos mais reconhecidos está em Lucas, no momento em que os apóstolos se terão apercebido da ressurreição de Jesus. Ao olhar para dentro do lugar onde Cristo jazia, eles terão dito “Não está aqui”, mas há quem argumente que uma vírgula pode ter sido ocultada e invertido o sentido da frase “Não, está aqui”. Se assim for, Jesus não terá ressuscitado e o corpo terá permanecido no mesmo lugar.

Foi então que, já no século VII, Isodoro de Sevilha ressuscitou o sistema de pontuações de Artistófanes. Ainda assim, modificou-o: o ponto colocado na parte inferior significava a vírgula e o ponto na parte superior da frase simbolizava o seu fim. O espaçoentrepalavras – perdão, o espaço entre palavras – surgiu pelas mãos dos monges escoceses e finlandeses, que não conheciam certas palavras latinas e precisavam de as separar para melhor as perceber.

Daqui para chegar aos sinais que usamos hoje foi um passo. Muito graças à música, que já colocava símbolos indicativos ao longo das pautas. Começaram a aparecer os sinais que marcavam pausas na leitura, ênfases, tons de voz e mudanças gramaticais.

A história da pontuação não termina aqui. Pelo contrário, parece desenvolver-se mesmo à frente dos nossos olhos, de cada vez que conversamos online com alguém. Porque isto ” :$ ” dá mais significado à frase que as reticências e isto ” :) ” é capaz de substituir um ponto de exclamação. É assim que a linguagem está a permitir às pessoas apurar o modo como transmitem ideias.

Agora, um exercício usualmente utilizado na primária. Havia um homem muito rico que estava no leito da morte. Antes de sucumbir, pegou numa caneta e num papel e escreveu a frase:

Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.

Mas o homem morreu antes de conseguir pontuar a frase. Há quatro partes envolvidas nesta frase: a irmã, o sobrinho, o padeiro e os pobres. Ponha-se no papel de cada um deles e pontue a frase de modo a sair a ganhar na luta pela herança.

Texto editado por: Rita Ferreira