O real brasileiro foi a moeda que mais viu o seu valor cair face às principais rivais na semana que termina esta sexta-feira, segundo os cálculos da Bloomberg. A desvalorização da divisa é o reflexo dos receios que há vários meses se acumulam em relação às perspetivas para a economia brasileira, mas não só. Nas últimas semanas, os mercados financeiros brasileiros e a divisa ressentiram-se da incerteza face ao mais gigante dos emergentes, a China, e, internamente, parece iminente que o Brasil possa sofrer um duro corte de rating e que o ministro das Finanças, Joaquim Levy, no cargo há oito meses, possa apresentar a demissão.
“O salvador do Brasil, Joaquim Levy, está saturado e os mercados estão nervosos“. Este é o título de uma notícia da Bloomberg, publicada na quinta-feira para descrever os rumores intensos de estaria prestes a demitir-se Joaquim Levy, cuja fama de reformista austero lhe granjeou a alcunha de Joaquim Mãos de Tesoura mas, também, que o tornou uma figura respeitada pelos investidores internacionais.
Os rumores intensificaram-se quando foi noticiado que Joaquim Levy não iria participar na reunião do G-20 este próximo fim de semana, na capital da Turquia. Mas foi rapidamente passada a mensagem pelo governo de que Levy iria, afinal, participar no encontro e que iria “continuar a ajudar o Brasil” nos seus esforços de consolidação da despesa pública. Essa redução da despesa pública e, no fundo, a criação de um Estado mais eficiente, é exigida pelas agências de rating para evitar que o Brasil veja a notação de risco de crédito revista em baixa. A primeira consequência dessa decisão seria custos mais elevados para financiar o Estado deficitário.
O real prepara-se para fechar a semana com uma desvalorização de 5,9% face ao dólar, a pior queda entre as 31 grandes divisas mundiais seguidas por um índice da Bloomberg. Nos últimos 12 meses, a moeda perde 31% face ao euro.
Real perde mais de 30% face ao euro nos últimos 12 meses
A moeda ficou sob pressão adicional depois de a Globo noticiar que o governo recusou usar parte das reservas de moeda estrangeira para conter a desvalorização do real. Assim, continuaram as perdas que se tinham agravado a partir de segunda-feira, quando Joaquim Levy foi ao Congresso brasileiro apresentar propostas que têm por base a expectativa de que o Brasil vai sofrer a pior recessão do último quarto de século e que, apesar dos cortes, o país terá um défice primário em 2016 (receita orçamental vs despesa, descontando pagamentos de juros).
Quando assumiu a pasta das Finanças, Joaquim Levy foi visto como a última esperança do Brasil para equilibrar as contas públicas e recuperar a confiança dos investidores internacionais. Mas tem dececionado no cargo, em parte porque muitas medidas que propôs foram chumbadas no Congresso, e a situação agravou-se.
Levy instou, recentemente, o Congresso a que este “arrumasse a casa”, numa referência às medidas de consolidação que o ministro vê como adequadas para melhorar a situação orçamental do Estado brasileiro. A declaração foi muito mal recebida por alguns setores do organismo legislador. O ministro tem, também, enfrentado a dura resistência de vários sindicatos poderosos, tendo já os líderes de vários sindicatos recomendado a Joaquim Levy “faça as malas e vá para casa”.