Santo Deus, o que terá passado pela fervilhante cabeça de António Costa? Não sei se o ouviram: troika, troika, troika; e mais troika, troika, troika; e ainda, para quem tivesse abandonado a sala por minutos para voltar a encher a chávena com café, troika. Quem suspirou pela troika? Pedro Passos Coelho. Quem negociou com a troika? Pedro Passos Coelho. Quem teve vontade de ir ao Bairro Alto tomar um copo com a troika? Pedro Passos Coelho.

Certo, todos percebemos o objectivo do líder do PS. Resta, porém, um problema. António Costa quis tanto colar Passos Coelho à troika que cometeu um erro fatal: fez com que este fosse um debate sobre aquilo que se passou em 2011 e não sobre o que se passa em 2015. Ou seja, fez com que o debate não fosse entre Pedro Passos Coelho e António Costa, mas entre Pedro Passos Coelho e José Sócrates. Ora, vamos lá pensar um bocadinho: quem será que ganha esse debate?

O líder do PSD entrou no estúdio desesperado por trazer José Sócrates ao debate – tanto que falou oito vezes no seu nome – mas nem precisou de roer as unhas: António Costa entregou-lho de bandeja. Aliás, Passos Coelho ficou tão entusiasmado com este inesperado presente que se esqueceu de falar decentemente sobre a Grécia (que, aliás, até seria um assunto mais eficaz para tentar convencer os indecisos). As maravilhosas aventuras do sr. Tsipras e do sr. Varoufakis só foram referidas duas vezes. E em nenhuma delas António Costa deu sinal de estar sequer a ouvir aqueles malditos nomes.

Já perto do final do debate, o líder do PS ficou tão incomodado com as referências ao seu “ante-antecessor” (peço desculpa, a palavra, se é que se pode chamá-la assim, não é minha) que perguntou a Passos Coelho, com comovente indignação: “Porque é que não vai lá a casa debater com José Sócrates?”. A resposta a essa angustiante pergunta seria simples: porque, graças ao próprio António Costa, não é preciso.

Miguel Pinheiro é jornalista, ex-diretor da revista Sábado

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