Uma das definições no dicionário para a palavra “confiança” é “esperança firme”. Costa agarra-se a essa definição mais do que a qualquer outra nesta campanha eleitoral e desdobra a palavra em adjetivos e argumentos para convencer o eleitorado a depositar o voto no “partido da mãozinha”. Mas afinal, de quantas maneiras diferentes pode um homem pedir para que confiem nele? Os argumentos que o PS anda a tentar passar.
Confiança é “esperança com segurança”
Foi o próprio candidato a dar a definição. “Temos insistido nesta palavra – confiança – confiança porque quer dizer esperança com segurança. Para o podermos fazer com confiança temos de ter um terreno sólido por onde avançar e isso é a segurança”, disse Costa em Almeirim. Traduzindo por miúdos: o secretário-geral do PS quer fazer passar a ideia que é diferente dos “radicais ultra-liberais” da coligação do Governo, que cortam nas pensões e nas prestações sociais (ideia que passou ao longo da primeira semana de campanha e não largou); que o PS é um “partido moderado”; e que não promete o mesmo que em 2011 porque sabe que o país está diferente. Costa quer passar a ideia que o voto no PS é o único possível para mudar sem ser radical, apresenta-se como o partido verdadeiro do centro, que consegue unir à direita e à esquerda, aqueles que têm valores “valores socialistas, democratas-cristãos, sociais-democratas, que são inspirados pela doutrina social da igreja e pelo personalismo humanista”.
Nesta sua definição de “confiança”, o líder socialista explica, por exemplo, que quer ir consoante a parte financeira deixar, que devolve a sobretaxa em dois anos (ideia lembrada por Vieira da Silva) e que abandona a política de grandes obras públicas, empurradas só lá mais para a frente. Fica o mote: “Mais importante que ganhar umas eleições é conservar a credibilidade na governação depois das eleições”.
Confiança é “não ganhar por poucochinho”
Começou logo no início da campanha eleitoral a pedir o voto para “não ganhar por poucochinho”. Uma expressão que usou para qualificar a vitória eleitoral de António José Seguro nas eleições europeias. Mas qual o argumento? O da estabilidade governativa. Disse Costa que “quem ganha por poucochinho” só pode “fazer poucochinho” e que o Governo PS não pode “ficar dependente da direita”. Lapso? Não voltou a referir a condicionante, aliás, nos dias a seguir evidenciou que mesmo em maioria relativa conseguiu fazer acordo. Costa, o autarca, entrou na campanha, mas já lá vamos.
Confiança “continuar a ser autarca, mas numa autarquia um bocadinho maior”
Foi perante uma plateia de autarcas que Costa insistiu na ideia que podem confiar nele porque tem provas dadas de que consegue dialogar com outras forças políticas e consegue atingir consensos. Costa autodenominou-se de “o construtor de consensos” dando o exemplo do que fez em Lisboa, mesmo quando teve maioria relativa. “Gostaria que vissem sempre em mim como primeiro-ministro aquele que continuará a ser sempre um de vós, autarca ao serviço do país, embora numa autarquia um bocadinho maior”.
O exemplo de Lisboa seguiu até Loures, onde chamou para perto de si Helena Roseta – de regresso às listas – e José Sá Fernandes – “Zé, fazes falta!”, disse-lhe -, mas também de Basílio Horta. O fundador do PS serviu já por duas vezes de bengala a pedido de voto e de união de vários quadrantes políticos. E Basílio deu-lhe a deixa: “Estabilidade? Mas haverá maior instabilidade que uma vitória deste governo? Quem tem capacidade de dialogo é o PS. Este governo tem uma capacidade muito, muito limitada. Quem tem capacidade é o PS e o sr Doutor António Costa”.
Confiança são contas feitas “sem mudar uma vírgula”
Não haverá ideia que mais repita em cada esquina. Algumas vezes de programa na mão, acena com os números. E caiu-lhe no colo uma notícia que lhe deu argumento e motivação contra a maioria: o adiamento da venda do Novo Banco fez disparar as contas do défice do ano passado e Costa não mais largou a ideia de que “de nada valeu a austeridade” imposta por este Governo uma vez que o défice se manteve ao mesmo nível de 2011.
“As pessoas sabem que o nosso anterior governo terminou numa situação muito difícil depois de de ter tido de enfrentar condições extraordinárias fruto de uma crise internacional terrível em 2008. Mas sabem também que Passos Coelho e Paulo Portas não merecem confiança – porque não cumpriram com aquilo que foram os compromissos que assumiram da campanha eleitoral – prometeram-nos que o pais ia crescer e que a dívida ia reduzir”. Repetiu depois algumas nuances da mesma ideia, dizendo que as contas da coligação “ruíram como um castelo de cartas” ou que foram “por água abaixo”.
Num almoço em Loures ao lado de Mário Centeno, tido como provável ministro das Finanças se o PS vencer as eleições, Costa elogiou-lhe a segurança do cenário económico em que se baseou o programa, dizendo que com estas “contas certas”, o PS não precisa de mudar o programa eleitoral – “Nem uma vírgula”.