Leandro Amado apanhou um avião no aeroporto de Ancara, Turquia, no dia 22. Aterrou em Cabul, no Afeganistão, onde apanhou boleia de um helicóptero norte-americano. Teve que vestir um colete anti-balístico e capacete. Sobrevoou “uma das áreas mais problemáticas da capital afegã”. O que vale é que a viagem foi curta, 15 minutos que o levaram até à base militar nos arredores da cidade. Jaime Leitão viajou de Abu Dhabi para Bagdad. Também equipado com material individual de proteção, seguiu de helicóptero para a base de Besmaya. O voo, que contou com a ajuda dos norte-americanos, teve que ser feito de noite por razões de segurança. Mas nem um, nem o outro foram combater. Leandro Amado e Jaime Leitão são diplomatas e foram recolher os votos dos militares que por estarem em missão no estrangeiro têm dificuldade em exercer um direito que é de todos.

“Foi muito bom para eles saberem que, mesmo apesar da distância e dos perigos inerentes a uma deslocação a um cenário como o Afeganistão, o Estado português, representado por um diplomata, não os esqueceu”, afirmou ao Observador o chefe de missão-adjunto na embaixada portuguesa em Ancara, explicando que os militares e civis portugueses mostraram “satisfação”.

Os votos destes eleitores portugueses integrados em operações de paz e cooperação técnico-militar foram recolhidos nos dias 22 e 23 de setembro. Já nas eleições europeias a embaixada de Portugal em Ancara tinha enviado uma diplomata ao Afeganistão, mas nessa altura o contingente era outro. Em Cabul, estão atualmente dez militares integrados na Missão de Apoio e Assistência da NATO no Afeganistão e um na Missão das Nações Unidas (UNAMA).

Na Somália, em Mogadíscio, os quatro militares portugueses na Missão de Treino Militar da União Europeia exerceram o direito de voto antecipado, no dia 24 de setembro. Segundo o encarregado de negócios da embaixada de Portugal em Nairobi, Francisco Meireles, “os militares ali presentes que votavam pela primeira vez desta forma mostraram-se muito felizes pela possibilidade de o fazerem e em especial pelo esforço do MNE em lhes permitir o exercício do direito de voto no local da sua missão”. No caso destes quatro militares, um deles já tinha exercido o direito de voto antecipado, em 2011.

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Francisco Meireles relata, também, as medidas de segurança adicionais na viagem: a aproximação do avião a Mogadíscio é feita por mar e na descolagem “o avião vira imediatamente para o mar, para se afastar da cidade, não vá dar-se o caso de alguém disparar com balas ou mísseis”. A União Europeia não aconselha deslocações fora do aeroporto e que, mesmo aí, estas são feitas em carros blindados.

Os militares portugueses que integram a coligação de combate ao ISIS – Estado Islâmico -, e que estão deslocados no Iraque, também votaram entre os dias 22 e 24 de setembro. Estes entendem que “não seria justo” serem impedidos de votar por estarem a “cumprir uma missão ao serviço do país”, salienta ao Observador o embaixador em Abu Dhabi, Jaime Leitão.

No Mali (cinco efetivos), Kosovo (185 efetivos) e República Centro-Africana (oito) os militares portugueses deslocados também exerceram o direito de voto, assim como os 196 que estão a bordo da fragata D. Francisco de Almeida (que integra a Força de Reação Imediata da NATO) no Mediterrâneo. Portugal tem atualmente mais de 400 militares deslocados em missões no estrangeiro. Segundo a lei, estes podem votar antecipadamente entre os dias 22 e 24 de setembro.