Esta história conta-se por etapas. A época passada Nélson era um miúdo, mais um que andava pela equipa B do Benfica. Gostava de atacar, correr muito e fintar todos os que lhe aparecessem à frente. Estava sempre junto à linha, onde um extremo deve estar. Mas o treinador achou por bem puxá-lo para trás e fazer de um extremo que pouco defende um lateral que muito ataca. O risco deu certo e, quando na equipa dos graúdos um uruguaio chamado Maxi decidiu ir embora, Rui Vitória chamou este recém-feito lateral direito para ver o que ele tinha. Viu, adorou, apostou nele, surpreendeu gente e, dois meses depois, vai com nove jogos feitos e a titularidade agarrada. Esta história ainda não tem um final porque Nélson Semedo só tem 21 anos, mas já tem um capítulo feliz — acabou de ser convocado, pela primeira vez, para a seleção nacional.

“É um grande orgulho para mim, o início de uma nova etapa na minha vida. É a primeira vez que vou a uma Seleção Nacional e logo na equipa A. Estou muito entusiasmado e sinto-me orgulhoso. Vou encarar esta convocatória como uma grande oportunidade e dar tudo para continuar a merecer a chamada do mister.”

Isto já é obra de Fernando Santos, que também gostou, e muito, do que tem visto e não se esqueceu de agradecer a quem acaba por ser o causador disto tudo. “Acho que o Hélder fez um excelente trabalho, pegou  num jogador da frente e pô-lo a jogar a lateral direito, foi um excelente investimento”, confessou o selecionador, dirigindo uma quantas palavras ao treinador da equipa B do Benfica. “A evolução do Nélson é muito positiva nos jogos que observámos, e observámos muitos”, acrescentou, quando acabou por ceder aos jornalistas que, insistentes, lhe pediam para falar sobre o estreante nos convocados. E, de repente, o miúdo que nem para o último Europeu sub-21 foi convocado acabava de ser chamado para estar no jogo que vai decidir se seleção principal estará, ou não, no Campeonato da Europa de 2016.

A lista dos 24 jogadores convocados para os jogos contra a Dinamarca e a Sérvia:

Guarda-redes: Rui Patrício (Sporting), Anthony Lopes (Olympique Lyon) e Ventura (Belenenses)

Defesas: Cédric Soares (Southampton), Nélson Semedo (Benfica), Bruno Alves (Fenerbahce), José Fonte (Southampton), Luís Neto (Zenit São Petersburgo), Ricardo Carvalho (AS Monaco), Eliseu  (Benfica) e Fábio Coentrão (AS Monaco).

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Médios: Danilo Pereira (FC Porto), Miguel Veloso (Dinamo de Kiev), Tiago (Atlético de Madrid), André André (FC Porto), João Moutinho (AS Monaco), João Mário (Sporting).

Avançados: Bernardo Silva (AS Monaco), Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Danny (Zenit São Petersburgo), Nani (Fenerbahce), Rafa Silva (Sporting de Braga), Éder (Swansea) e Ricardo Quaresma (Besiktas).

As perguntas, depois, continuaram a carregar na tecla e obrigaram Fernando Santos a dizer que não, Nélson Semedo não foi chamado para não vir a jogar por Cabo Verde, e que o facto de não ter feito jogos nas seleções jovens em nada influenciou a decisão. O selecionador explicou que o miúdo conseguiu “aproveitar a vaga deixada em aberto por Vieirinha e Bosingwa”, antes de dar o exemplo de Nené, o antigo avançado que não sujava os calções, que “nunca foi internacional nas camadas jovens e foi dos melhores jogadores de sempre do futebol português”.

O resto da convocatória está cheia de nomes habituados a ouvirem o telemóvel tocar com uma chamada de Fernando Santos. Mas houve mudanças e ainda foram algumas. A primeira está em Pepe, o central do Real Madrid que não está para voltar a estar Rui Neto, do Zenit. Para a defesa também Raphäel Guerreiro não foi convocado porque Fábio Coentrão livrou-se das lesões e está de volta. Conta feitas, há dois laterais e quatro centrais, como de costume. No meio campo deixou de haver Adrien Silva, de quem o selecionador elogiou o “espírito de grupo” e a “qualidade técnica”, mas recorreu à velha justificação de só poder escolher 24 jogadores antes de dizer que, para jogar contra a Dinamarca e a Sérvia, prefere João Moutinho, Tiago e João Mário.

A seleção nacional enfrenta a Dinamarca na quinta-feira, 8 de outubro, a partir das 19h45, em Braga. Depois vai à Sérvia, onde jogará a 11 de outubro.

Entre os jogadores que são melhores a atacar do que a defender há uma novidade das grandes — Rafa Silva. O velocista do Sporting de Braga regressa à seleção depois de ter estado no Mundial de 2014 e vê uma recompensa chegar-lhe enquanto está a ser o craque da equipa minhota neste início de temporada. E para estar o bracarense teve de sair o portista Silvestre Varela.

De resto, continua a haver apenas um avançado (Éder, que em 261 minutos divididos por oito jogos ainda marcou um golo pelo Swansea) e, claro, Cristiano Ronaldo, que estava a ser homenageado pelo Real Madrid durante o tu-cá-tu-lá de Fernando Santos com os jornalistas. “Todos esperamos que marque golos. É uma coisa que ele faz muito bem há muitos anos. Espero que eles lhe saiam e lhe retirem a ansiedade. Às vezes também muito pressão, basta não marcar em dois jogos e toda a gente fala nisso. Fico muito satisfeito e orgulhoso por ele neste momento estar a ser homenageado por ser o melhor marcador de sempre na história do Real”, disse o selecionador.

Fernando Santos resumiu, no fim, as escolhas com a lógica de que chamou quem está habituados a estas andanças e às partidas que tudo decidem: “Trazer jogadores a confrontos deste tipo que não tenham o conforto dos outros é difícil. Não posso chamar só para os trazer cá e depois dispensar. Chamo se vir neles perspetiva de, no futuro, serem a espinha dorsal da seleção nacional”. O selecionador sabe e avisou que vem aí um jogo dos complicados frente à Dinamarca, em Braga, onde uma vitória garante o apuramento para Portugal. “Temos que estar completamente focados nesse jogo. É uma equipa de grande qualidade e, para eles, é uma final. É o seu últimos jogo, nós ainda temos outro”, lembrou. O treinador esboçou um sorriso e agradeceu por o Estádio AXA já estar quase com lotação esgotada, pedindo às pessoas que “estejam sempre” com a seleção.