O líder do PS saiu da Comissão Política do partido com uma definição: não fecha a porta a entendimentos nem à direita nem à esquerda e passa a bola para o lado de lá, incluindo para o Presidente da República, que criticou. Disse António Costa que com a atitude “atípica” de chamar Passos Coelho, Cavaco Silva não promoveu “a construção de boas soluções de estabilidade governativa nem de diálogo entre as forças partidárias”. Da reunião dos socialistas saiu no entanto uma recusa liminar: não haverá governo com PSD e CDS.
“Não é saudável que as principais forças políticas, salvo situações de emergência, como uma invasão de marcianos, partilhem responsabilidades governativas, porque isso diminui a possibilidade de geração de alternativas e acho que não favorece a democracia”, disse.
Costa recusa Bloco Central. Daqui a pouco o texto no site do costume pic.twitter.com/HHelqJc6nM
— Liliana Valente (@LilianaValente) October 7, 2015
Os socialistas aprovaram esta terça-feira à noite uma resolução em que dão mandato a Costa para falar com todos, primeiro ouvir o que tem a dizer a coligação que ganhou as eleições, mas não se ficar por aí. O PS quer uma clarificação do PCP e do BE para saber se a ideia de um Governo de esquerda é afinal viável. “O PS considera indispensável a clarificação das posições publicamente assumidas pelo PCP e pelo BE sobre a existência de condições para a formação de um novo governo com suporte parlamentar maioritário”, lê-se no documento. E Costa reafirmou a ideia: primeiro o PSD/CDS apresentam a sua solução, mas se essa não for suficiente, Costa quer saber para já quais são afinal as intenções dos partidos à sua esquerda.
“Neste momento é importante e o mandato que tenho de falar com o conjunto das forças partidárias para saber qual a disponibilidade que têm. Havendo um partido que tem mais deputados é natural que lhe caiba o ónus para encontrar soluções de governabilidade. Teremos naturalmente de ouvir o que o PSD tem a dizer sobre as soluções de governabilidade, mas devemos falar com todas as forças políticas”, disse.
Acrescentou no entanto que não tem sido “indiferente” ao que Jerónimo de Sousa e que Catarina Martins têm dito, sobretudo o BE que, lembrou, “reafirmou aquilo que tinha dito no debate na televisão” ou seja que está disponível para falar com o PS desde que os socialistas cedam a algumas propostas: “São questões que devem ser devidamente ponderadas”, disse.
Certo é que Costa recusa ir para o Governo com o PSD, não havendo no entanto uma recusa para negociações pontuais. Contudo, na conversa com os jornalistas e no comunicado que saiu da reunião, os socialistas marcam as suas linhas vermelhas. Até porque o líder derrotado nas eleições lembra que “a campanha eleitoral foi muito clara” em mostrar duas coisas: que há uma “diferenciação das propostas da coligação de direita e do PS. Há uma enorme distância entre aquilo que nós propusemos e aquilo que a coligação de direita propôs” e que os portugueses votaram numa “mudança de políticas” e que por isso ” seria um contra-senso” se o PS votasse a favor de políticas contrárias.
Costa diz que seria "um contrasenso" votar em políticas diferentes daquelas que propôs pic.twitter.com/8YBS62L64f
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Presidente não contribuiu para o diálogo
António Costa ainda não foi chamado pelo Presidente da República para falar sobre os resultados eleitorais, mas não gostou do que ouviu. O líder socialista defendeu que a atitude de Cavaco Silva ao chamar Passos Coelho para que este procure negociações de Governo foi “atípica” e em nada contribui para encontrar uma solução de governabilidade estável.
“Bem sei que não houve um ato de indigitação, houve um convite para que Passos Coelho procedesse a avaliações. São figuras novas relativamente atípicas, mas que não conduzem para a construção de boas soluções de estabilidade governativa nem de diálogo entre as forças partidárias. O Presidente da República se quer ser um promotor de diálogo não deve considerar que é suficiente falar com o líder do seu partido. Não é essa a função do Presidente”, disse.