A diplomacia russa afirmou ter “sérias dúvidas” sobre os objetivos da investigação internacional conduzida pela Holanda sobre as circunstâncias da queda do voo MH17 da Malaysia Airlines em julho de 2014 no leste da Ucrânia.

“Sérias dúvidas permanecem sobre se o verdadeiro objetivo da investigação conduzida pela Holanda é estabelecer as verdadeiras razões da catástrofe e não justificar as acusações que tinham sido avançadas” em Haia, referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, num comunicado, em reação à divulgação do relatório final da investigação do Departamento de Segurança da Holanda.

A diplomacia russa também lamentou “não ter tido acesso aos documentos da investigação”.

“Francamente, estamos um pouco surpresos ao ver que vários países tenham já comentado de forma oficial e oficiosa o documento que foi publicado, como já conhecessem o conteúdo”, frisou a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, citada pela agência noticiosa RIA Novosti.

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A diplomacia russa também manifestou surpresa pelo facto dos peritos envolvidos na investigação internacional não terem “desejado vir à Rússia e examinar as provas de Almaz-Antei”, o construtor russo dos sistemas de defesa antiaérea BUK, incluindo o míssil terra-ar que está na origem da queda do aparelho Boeing 777 da Malaysia Airlines, segundo as conclusões do relatório hoje divulgado.

O construtor russo rejeitou as conclusões da investigação do Departamento de Segurança da Holanda.

“Evidentemente, a forma como [o inquérito] foi conduzido influenciou forçosamente o resultado”, reforçou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

“A única forma de evitar [a atual situação] é prosseguir com a investigação, modificar os parâmetros e envolver uma participação plena dos Estados que podem fornecer provas e meios que permitam esclarecer o acidente do voo MH17”, concluiu a diplomacia russa, acrescentando que Moscovo “está disponível” caso as autoridades de Haia queiram reabrir a investigação.

Num relatório hoje divulgado, a investigação do Departamento de Segurança da Holanda concluiu que o avião Boeing 777 da Malaysia Airlines, que fazia o voo MH17 entre Amesterdão e Kuala Lumpur, foi abatido, quando sobrevoava o leste da Ucrânia a 17 de julho de 2014, por um míssil terra-ar BUK, de fabrico russo, que atingiu o aparelho do lado esquerdo do ‘cockpit’.

Os investigadores não conseguiram determinar o local exato do lançamento do míssil, tendo identificado apenas uma área de 320 quilómetros quadrados no leste da Ucrânia, controlada pelos separatistas pró-russos.

A investigação à queda do voo da Malaysia Airlines, na qual morreram todas as 298 pessoas que seguiam a bordo (193 eram holandeses), concluiu por outro lado que, após a explosão, “a parte da frente do avião foi arrancada e o avião partiu-se no ar”.

O inquérito internacional — que envolveu outros países como Ucrânia, Rússia, Estados Unidos, Austrália e Reino Unido — também indicou que Kiev deveria ter encerrado aquela área do espaço aéreo ucraniano: no dia do acidente, 160 aviões sobrevoaram aquela zona de guerra.