Não havia qualquer razão para preocupações, apesar de os rumores serem bem conhecidos. O primeiro-ministro britânico David Cameron procurou, em agosto de 2010, tranquilizar a mulher antes de uma viagem a Itália para um jantar com Silvio Berlusconi. “Não te preocupes, Samantha, eu certifico-me de que algum assessor me obriga a sair do jacuzzi antes de as prostitutas chegarem”, disse Cameron.
Segundo o The Telegraph, esta é uma das histórias contadas na biografia de Silvio Berlusconi que acaba de ser publicada por um ex-jornalista do Financial Times, o norte-americano Alan Friedman. Para escrever My Way (traduzível por À minha maneira), Friedman pôde entrar na mansão onde, segundo algumas das modelos ouvidas pelo jornalista, havia shows de strip tease, modelos mascaradas de freiras e polícias e, claro, uma ubiquidade de “carícias recíprocas”.
Mas Silvio Berlusconi recusa que algum dia este cenário tenha sido contaminado por “indignidades”. As festas bunga bunga, que decorriam na villa de Berlusconi nos subúrbios de Milão, eram soirées à luz das velas onde reinava a elegância e o respeito. Toda a gente mantinha as roupas por cima do corpo, garante Berlusconi, que foi acusado de ter relações sexuais com uma prostituta marroquina menor de idade (à data, 17 anos) que era conhecida como Ruby, a rouba-corações. Foi condenado, a sete anos de prisão mas foi libertado após recurso.
O livro está disponível, em italiano, na loja portuguesa do iTunes.
“Nunca toquei em Ruby com um dedo”
“Tem a certeza que tem coragem? Quer entrar? Então, venha comigo”, terá dito Silvio Berlusconi ao jornalista que escreveu a biografia agora publicada. Nesta fase, Alan Friedman já não encontrou o cenário lascivo que é relatado por inúmeras pessoas que participaram nestas festas. A divisão principal da casa de Berlusconi é, segundo o próprio, “apenas uma sala de jantar, onde tenho as minhas soirées. Promovo jantares aqui há 30 anos e continuo a fazê-lo”, insiste Il Cavaliere.
Sobre o caso que o levou aos tribunais, o alegado sexo com uma prostituta menor, Berlusconi diz que “a Ruby dizia sempre a toda a gente que tinha 24 anos. E, sem dúvida, tinha aspeto disso”. Mas a Rouba-corações, de nome verdadeiro Karima El Mahrough, “era muito inteligente e sabida, porque tinha tido uma vida muito difícil”, diz Berlusconi, repetindo que não teve “qualquer relação íntima com ela”.
“Sempre disse que nunca toquei na Ruby. Nunca lhe toquei com um dedo. Ela sempre o disse e nunca ninguém viu nada”, afirma Il Caveliere. “Para provar que teve lugar sexo é preciso haver uma prova, uma fotografia, um vídeo, uma testemunha, no mínimo. Mas não há nada – é tudo uma invenção!”
Berslusconi diz que tentou evitar invasão do Iraque
Na biografia My Way, Berlusconi aparece retratado – pelo próprio – como um responsável político poderoso que tentou, inclusivamente, evitar a entrada das tropas no Iraque. O plano de Berlusconi passava por exilar Saddam Hussein na Líbia, com a ajuda do seu amigo, o entretanto falecido Muammar Kadhafi. Mas o ódio pessoal de George W. Bush a Saddam – que, acreditava o Presidente americano, tentou assassinar o seu pai – e a “distração” de Tony Blair fizeram com que a intervenção acontecesse na mesma.
Em janeiro de 2003, Berlusconi procurou ter um almoço com George Bush para fazer uma última tentativa de impedir a invasão, mas não teve sucesso. Perante um conjunto de responsáveis internacionais, Berlusconi contou uma fábula que envolvia lobos e leões e que procurava mostrar que Bush não tinha razões para invadir o Iraque e depôr Saddam Hussein. Conta o The Telegraph, citando a biografia agora publicada, que toda a gente na sala se riu, exceto Bush, que brincou: “Vou dar-lhe um chuto no rabo”.