As opiniões dos empreendedores presentes num dos painéis de discussão do ICT 2015 é unânime: a Europa precisa de eliminar barreiras na regulação da inovação, na legislação que envolve a economia de partilha ou o mercado laboral. Só assim as startups poderão escalar sem terem “de começar 28 vezes”. Só assim se ouvirão as necessidades dos consumidores. E a quem é a favor de fechar fronteiras, uma mensagem: “A inovação não vai matar-vos”.
O estónio Ragnar Sass, fundador da Pipedrive, não hesita em dizer que é preciso dizer às pessoas que “a inovação vai ajudá-las”, que as empresas tecnológicas vão contribuir “para melhorar a sua vida” e que não é preciso “terem medo de perder o vosso trabalho”. Por isso, não hesita: “É preciso educar as pessoas.”
O empreendedor da Estónia defende que a única forma de a Europa competir com Silicon Valley, nos EUA, é “abrindo as portas às pessoas com talento”, vindas de países como a China ou Índia. “A Europa precisa de mais engenheiros”, refere.
Filipe Neves, da portuguesa Feedzai, concorda. Conta que a principal dificuldade que a empresa tem sentido nos últimos anos é precisamente essa: a de trazer e reter talento em Portugal. Explica que demorou sete meses a conseguir contratar um profissional especializado para determinada função, porque era chinês.
“Quando queremos contratar alguém de fora da Europa, é difícil, burocrático, caro e demora muito tempo. E numa startup a janela de oportunidade que existe em sete meses pode fechar-se, por exemplo”, diz, acrescentando que as legislações do mercado laboral são muito diferentes de país para país.
Angel Mesado, diretor da AirBnB em Portugal e Espanha, adianta que a Europa é um “ótimo lugar para as startups”, mas que é preciso regulação anlguns setores, nomeadamente na economia de partilha, que têm o foco do seu negócio na comunidade.
“A forma como as pessoas consomem [produtos ou serviços] alterou-se com o aparecimento destas startups, onde o papel dos utilizadores é crucial. E a fragmentação da regulação é um problema, porque estes utilizadores encontram regras diferentes consoante o país onde se encontram”, afirmou Angel Mesado.
Lenard Koschwitz, diretor da associação global de advogados Allied for Startups, aponta que é preciso falar diretamente com os políticos europeus sobre as necessidades dos empreendedores. “Quando as startups europeias querem conquistar o mercado europeu têm de começar 28 vezes. Devíamos estar unidos da diversidade”, afirma.
Defendendo a existência de um “startup visa” como um verdadeiro projeto europeu, que permita uma melhor circulação para fundadores e primeiros recursos humanos contratados pelas empresas, afirma que uma das coisas positivas na Europa é a”riqueza de cultura” e que a fragmentação também tem ajudado a desenvolver uma Europa “inovadora”.
“Quando falamos de startups, falamos de inovação, de criatividade, de disrupção. Temos grande talento na Europa, um mercado enorme, boas instituições, o aparecimento de vários ‘clusters’ de inovação liderados por instituições públicas, Há um enorme potencial de crescimento, mas a fragmentação legal é um desafio para os negócios”, referiu Angel Mesano.
O ICT 2015 é organizado pela Comissão Europeia em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia. A edição deste ano decorre entre 20 e 22 de outubro, no Centro de Congressos em Lisboa, e é a primeira vez que o evento sai da casa-mãe – o país que detém a presidência do Conselho Europeu nesse ano.