Os juros da dívida de Portugal estão a subir seis pontos base, para 2,43% a 10 anos, numa manhã de segunda-feira em que as taxas de Espanha estão inalteradas face a sexta-feira e os juros de Itália estão a cair ligeiramente. Apesar do impulso dado pelo pré-anúncio de mais estímulos por parte do BCE, a incerteza política continua a penalizar a perceção de risco de Portugal e os analistas do Royal Bank of Scotland aconselham os investidores seus clientes a “manterem-se longe” da dívida portuguesa.
“Mantenham-se longe do mercado de dívida portuguesa. Prefiram Itália e Espanha“. Este é um título de uma nota de análise enviada aos clientes pelo influente banco de investimento britânico Royal Bank of Scotland na sexta-feira. A julgar pela dinâmica dos mercados esta segunda-feira, é exatamente o que está a acontecer.
Os juros de Portugal estão a subir em todos os prazos, com a taxa a 10 anos a aumentar seis pontos base para 2,43%, mas a dívida espanhola segue inalterada (com juros nos 1,64%) e as taxas de Itália caem um ponto base para 1,49% no mesmo prazo de referência. Esta tem sido a tendência dos últimos dias, perante a incerteza política na formação de governo em Portugal, o que se pode testemunhar pela comparação dos juros de Portugal com os de Espanha e Itália.
Alívio nos juros de Portugal preso pela incerteza
O gráfico ilustra a evolução comparativa (em base 100) dos juros da dívida de Portugal (linha branca, com fundo azul) e de Espanha (linha amarela, sem fundo) nos últimos três meses. Depois da incerteza em torno das eleições na Catalunha, que pesaram sobre a dívida espanhola no final do verão, a perceção de risco inverteu-se na semana após as eleições portuguesas, quando começou a perspetivar-se dificuldades na formação de governo.
Essa indefinição está a impedir que Portugal beneficie tanto quanto os outros países da perspetiva de um reforço dos estímulos monetários por parte do BCE, que passam pela compra de dívida pública dos países da zona euro para injetar liquidez no sistema e tentar estimular a taxa de inflação.
Ascensão da “estrela Catarina Martins”, a “Tsipras portuguesa”
O Royal Bank of Scotland é apenas o último dos grandes bancos de investimento europeus a desaconselhar aos seus clientes o investimento na dívida portuguesa. “A situação continua muito fluida e recomendamos que se mantenham longe do mercado de dívida portuguesa”, diz o banco de investimento.
“No longo prazo, estamos preocupados com Portugal, já que consideramos que a situação económica fundamental é preocupante e acreditamos que a instabilidade política vai arrastar-se ao longo de 2016, com a Sra. Martins em alta”, escreve o banco de investimento, que compara a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, a Pablo Iglesias (do espanhol Podemos) e a Alexis Tsipras (do Syriza).
Catarina Martins está a “gerir a situação com uma habilidade impiedosa” e “o risco para os socialistas é perderem o voto dos cidadãos moderados para a coligação Portugal à Frente (PSD+CDS) e o voto dos cidadãos mais radicais para o Bloco de Esquerda”. Aí, o Partido Socialista arrisca “ser espremido de forma semelhante ao que aconteceu com o PASOK na Grécia“.