Aos 16 anos saiu de casa para ir jogar basquetebol nos Estados Unidos. Voou para Nova Iorque com um sonho na mão. Regressou à Figueira da Foz com uma lesão na outra. Nunca mais jogou. “Foi a minha primeira desilusão”, conta Manuel Albuquerque, 27 anos. A segunda foi a música, a terceira transformou-se numa oportunidade e à quarta revela: está a fechar uma ronda de investimento de 500 mil euros e prepara-se para entrar no mercado espanhol com a interface que desenvolveu juntamente com Paulo Gaspar. Tudo isto tem um nome: Primetag.
Engenheiro civil de formação, quando acabou o curso trabalhou três meses numa empresa multinacional. “Percebi que não nasci para trabalhar os sonhos dos outros. E que tinha os meus”, revela. Conta que não fazia ideia do que era empreendedorismo, startups ou investimento. Mas tinha umas ideias na área dos desportos de ação, gostava de fazer surf e queria encontrar um problema que esta comunidade pudesse ter. Criou uma rede social para atletas de desportos radicais que pudesse ter retorno dos próprios conteúdos e chamou-lhe RedLegacy.
“Na altura, sentimos que estávamos a construir o projeto no país errado. Portugal ainda não tem uma vertente digital muito forte nestas marcas e percebemos que estávamos numa indústria que ainda não estava muito desenvolvida”, conta.
Foi só depois de lançar a plataforma que percebeu o impacto que a tecnologia que estava a ser desenvolvida por Paulo Gaspar, cofundador da Primetag, poderia ter. Extrapolou o conceito, ampliou a área de atuação e deu-lhe um novo nome. “Era uma coisa gira, mas quando lançámos a fórmula de e-commerce que permitia a um fã poder comprar uma imagem, foi brutal. Repensámos tudo”, conta. E o que é a Primetag? Um software quer permite transformar uma imagem online num canal de venda.
Imagine que está a navegar por um site, vê um produto, e ao clicar sobre ele vai diretamente para o canal de venda daquela marca. Clica e compra o produto. Além de isto facilitar a experiência de navegar pela internet, tem um valor acrescentado para a marca – que está a reter um cliente que outrora não conseguia ter – e para os publishers, como bloggers, sites de notícias, magazines, entre outros, porque permite ter um rendimento extra. Recebem ao clique”, explica.
Em abril, testaram a interface com 25 bloggers. Seis meses depois cresceu para 607. Como funciona? Os publishers utilizam a interface como se de um banco de imagens se tratasse. Escolhem as imagens dos produtos que vão utilizar em determinado post, fazem o upload e quando publicam, a imagem torna-se interativa e liga o leitor ao canal de venda online onde se encontra aquele produto. Gratuito, os publishers recebem um valor por cada clique vindo desse post, as marcas pagam uma mensalidade para estarem disponíveis na plataforma e a Primetag recebe uma parcela.
Em seis meses, fizeram mais de 20 campanhas com marcas e a média de retorno está nos 266%, conta Manuel, tendo já conseguido que a interface gerasse um volume de negócios para as marcas no valor de 30 mil euros. Lanidor, Lemon Jelly, Prozis, KuantoKusta, Círculo Bio e Samsonite são algumas das marcas na área da moda, desporto e suplementos, hardware, saúde e bem-estar e viagens que já estão presentes na plataforma.
Além de funcionar como interface, também serve como base de dados. Mediante o pagamento de uma mensalidade, as marcas podem aceder a outras ferramentas e perceber quais são os melhores publishers para publicar determinado conteúdo, quais são as tendências do mercado, entre outros.
Até à data, a média de reconversão de imagens em cliques para as marcas ronda os 17% e a conversão de venda está nos 3,2%. Depois de ter sido contactado por dois nomes “relevantes” do retalho espanhol, Manuel Albuquerque tem estado a preparar a entrada no país vizinho, através de uma parceria com um business developer. O objetivo é entrar em Espanha no início do ano e os planos passam por contratar mais três pessoas para a equipa.
*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.