A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, reconheceu hoje no Funchal que a atuação de um governo de esquerda em Portugal vai ser “difícil” e vai estar sujeita a “gigantescas pressões”.

“Vamos ter, certamente, gigantescas pressões da Europa da austeridade; vamos ter, certamente, gigantescas pressões dos grandes grupos financeiros internacionais, que têm lucrado tanto com a venda do nosso país ao desbarato; vamos ter gigantescas pressões do sistema financeiro e dos grandes grupos económicos que têm gostado tanto da destruição das condições do trabalho e da vida em Portugal”, disse Catarina Martins, no decurso de uma sessão pública de esclarecimento sobre o apoio do BE à formação de um governo liderado pelo Partido Socialista.

A porta-voz do Bloco de Esquerda realçou que o partido ficou disponível para negociar uma alternativa de governo com o PS a partir do momento em que este abandonou três ideias que “caracterizam o que é a austeridade”, nomeadamente “acabar com o regime conciliatório; acabar com a descapitalização da segurança social, através da redução da TSU; e descongelar as pensões”.

Catarina Martins disse ainda que isto não é tudo o que o BE acha necessário ao país, mas vincou que é uma “alternativa concreta” à direita, realçando que o acordo com Partido Socialista assenta na recuperação dos rendimentos do trabalho ao longo de toda a legislatura, através da recuperação de salários e pensões.

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No entanto, reconheceu que o governo de esquerda vai estar sujeito a “gigantescas pressões”, mas garantiu que terá força para resistir às mesmas, porque “temos um acordo que responde pela vida das pessoas” e representa a “maioria expressa nas eleições”. “O programa da direita de vender tudo o que o Estado tem e foi construído com o investimento público foi derrotado nas eleições, não tem maioria, e é porque não tem maioria que vai ser derrotado também na Assembleia da República no início desta semana”, declarou a líder bloquista.

A porta-voz do BE salientou que não se trata de um golpe de Estado, mas apenas do simples funcionamento da democracia. “Eles [PSD/CDS-PP] não têm os votos suficientes para fazer passar o seu programa e o seu orçamento. É a democracia. É mesmo assim. Porque no dia 4 de outubro, quem foi eleger os deputados não lhes quis dar esses votos. Perderam a maioria”, sublinhou.

Catarina Martins disse, por outro lado, que não foi o Bloco de Esquerda que mudou, mas sim a relação de forças políticas e o resultado das eleições nacionais, alertando ainda para o facto de o PS também não ter ganhado as eleições, pelo que a “alternância do costume” está agora fora de questão.

Nas eleições legislativas de 4 de outubro, o Bloco de Esquerda elegeu pela primeira vez um deputado da Madeira à Assembleia da República.