Os observadores estrangeiros consideraram hoje “pacíficas e livres” as legislativas de domingo na Birmânia, cuja contagem é liderada pelo partido da opositora e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.

O chefe da equipa de observadores da UE, Alexander Lambsdorff, afirmou que, em geral, a votação foi “pacífica e superou as expetativas”.

O político alemão sublinhou que “não se pode falar de umas eleições genuínas e de acordo com padrões internacionais, enquanto pelo menos uma câmara não for totalmente escolhida nas urnas”, numa referência aos 25 por cento dos assentos reservados para os militares nos parlamentos nacional e regionais.

Até 150 observadores da UE acompanharam a campanha eleitoral, a votação, em meio milhar de assembleias de voto, e o escrutínio dos boletins pela Comissão Eleitoral birmanesa.

A votação decorreu “notavelmente bem” em 95% das assembleias de voto visitadas pelos observadores e só em 7% se registaram casos de eleitores impedidos de votar por não constarem dos cadernos eleitorais, afirmou.

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O chefe dos observadores da UE manifestou-se preocupado pela situação de mais de meia centena de candidatos muçulmanos desqualificados pela Comissão Eleitoral, bem como a de alguns eleitores de algumas minorias impedidos de votar, como os ‘rohingyas’ muçulmanos.

Mais de meio milhão de ‘rohingyas’ participaram nas eleições de 2010, mas este ano o governo retirou-lhes o direito de voto.

“Se puderam votar em eleições anteriores, é difícil perceber porque não puderam agora”, disse Lambsdorff, que lamentou a falta de transparência na gestão da votação antecipada, à qual os observadores internacionais não tiveram acesso.

A equipa europeia considerou que as autoridades birmanesas também deviam avaliar a presença reduzida de mulheres candidatas, que só representaram pouco mais de 13% em cerca de seis mil candidatos em todo o país.

Lambsdorff, que apresentou um relatório preliminar, informou que a equipa vai ficar na Birmânia até ao início de dezembro e as conclusões finais sobre as legislativas serão apresentadas em abril.

Os observadores da Rede Asiática para Eleições Livres (ANFREL, sigla em inglês) qualificaram as legislativas birmanesas de “livres e justas”, num relatório preliminar apresentado hoje.

O chefe da equipa da ANFREL, Damaso Magbual, afirmou que estas eleições foram um “passo importante” no processo de democratização plena do país, sob ditaduras militares desde 1962.

As duas equipas de peritos internacionais consideraram que o processo só estará terminado quando a Comissão Eleitoral concluir a contagem dos votos, publicar os resultados, em data ainda a anunciar, e todas as partes aceitarem o resultado.

Até agora, dos 88 lugares (dos 330 a preencher) da câmara baixa do parlamento, 78 foram atribuídos à Liga Nacional para a Democracia (LND, sigla em inglês) de Suu Kyi, de acordo com a Comissão Eleitoral.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, felicitaram os birmaneses pela realização de “eleições históricas” no caminho para a democracia.