Sentir é um verbo cheio. Entre os cinco sentidos tradicionais, que aprendemos a enumerar na infância, há outros que se interligam. A ciência ainda não consegue explicar esta complexidade, mas não faltaram tentativas ao longo de séculos. É através dos sentidos que os homens se relacionam com o mundo que os rodeia, com maior ou menor afinidade dos recetores neuronais, que traduzem toda a informação e “explicam” o que, afinal, sentimos.

A evolução tecnológica trouxe fortes mudanças e também os sentidos foram afetados. Ou mais apurados. Na sociedade da imagem, é preciso ver e ouvir atentamente o que nos chega via Internet. Tocar, cheirar e provar tornaram-se sentidos mais secundários. Mas será mesmo assim?

O Observador organiza mais uma Conversa em torno de um tema essencial para a sociedade portuguesa. Dia 19 (5ª feira), às 18h00, o CCB será palco de um debate sobre sentidos e sentimentos. À conversa, sob moderação da jornalista Laurinda Alves, estará um painel eclético: uma maestrina (Joana Carneiro), um sacerdote cantor e engenheiro (Nuno Tovar de Lemos), uma enóloga (Sandra Tavares da Silva), uma neurocientista (Diana Prata), um músico (Noiserv) e um arquiteto (Camilo Rebelo).

Para antecipar o debate, falámos com estes dois últimos convidados e quisemos saber que esperam desta conversa.

“Qual é o sentido disto tudo?”

“Eu não acho que podemos falar de apenas um sentido, mas de um conjunto, um sentimento geral. Não é por acaso que dizem que se nos falta um sentido, apura-se outro”, diz David Santos, mais conhecido pelo projeto musical Noiserv.

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Mas os sentidos não estão em harmonia com os tempos. Segundo David, “as pessoas estão a esquecer a importância dos sentidos e há uma grande falha nessa harmonia. Acho que [nestes dias] devemos perguntar qual é o sentido disto tudo?

Tendo em conta a sua carreira, destaca, “talvez”, a audição como o sentido mais importante e vai querer ouvir atentamente os contributos para o debate. “A ideia é que seja uma conversa aberta, em que ouvimos os outros falar e podemos tentar mudar algo, despertar algo”, diz.

Num momento especial da carreira, em que acabou de editar um disco em França, continua a querer chegar ao máximo de pessoas: “Nunca tive ideia de sair do país. Acho que faz mais sentido que [as minhas músicas] toquem as pessoas de cá, mas, nos próximos meses, quem sabe?

Da Vinci ou Le Corbusier?

Já o arquiteto Camilo Rebelo destaca os sentidos como “a medida fundamental dos homens”. E traz mesmo dois exemplos históricos da perfeição, do paradigma do homem perfeito: o Homem de Vitrúvio, desenhado por Leonardo Da Vinci, e o “Homem-Máquina” do, também arquiteto, Le Corbusier.

“Acho desafiante ver o mundo nesta dualidade, porque ainda não chegámos a um equilíbrio. O Da Vinci falava de métrica, o Corbusier de máquinas e ainda nos falta a medida de integrar os dois, em que a tecnologia está ao serviço do homem intuitivo”, refere.

Para Camilo, a arquitetura é um bom exemplo dessa integração. O Museu do Côa, projeto premiado que desenvolveu com Tiago Pimentel, mostra a possibilidade de “voltar à paisagem, de criar lugar, de criar um diálogo com a Natureza, através dos sentidos”.

Diz que é preciso “reinventar o conceito de estar e sentir” e refere uma conversa com Paulo Cunha e Silva, vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto falecido recentemente. “O Paulo disse-me que ‘depois da felicidade, estão as ligações’. Mas que ligações temos hoje? Eu não estou nas redes sociais, por exemplo, nem faço questão de estar… Acho que devemos pensar nos sentidos e na forma como estão a mudar, tendo em conta a nossa ligação ao mundo”, refere.

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