Enquanto, dentro de portas, as delegações das quase duas centenas de Estados discutem a proposta final do acordo saído da Cimeira do Clima, nas ruas de Paris multiplicam-se as manifestações convocadas por organizações não-governamentais contra os resultados da conferência, considerados insuficientes para combater o aquecimento global.

A Quercus é uma das ONG presentes e, ao Observador, afirma que, apesar de o acordo dar um “sinal claro para a transição energética baseada em energias renováveis”, ainda é preciso fazer mais. Portugal, em particular, terá de rever a política climática e energética para poder cumprir os objetivos traçados.

Um dos principais eventos, adianta a Quercus em comunicado, teve lugar perto do Arco do Triunfo, onde os manifestantes, na sua maioria vestidos de vermelho, usaram uma faixa gigante com mais de 100 metros e desenharam linha vermelha com túlipas e chapéus-de-chuva ao longo da avenida.

Outra das manifestações prevista para esta tarde tem como objetivo formar uma cadeia humana entre a Torre Eiffel e o monumento ‘Muro da Paz’, situado no outro extremo do Campo de Marte. A iniciativa “estado de emergência climática” deverá juntar alguns milhares de participantes numa ação “pacífica e determinada”, explica a Quercus, que também estará presente.

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De acordo com a agência Lusa, um responsável da polícia de Paris, Michel Cadot, lembrou ainda assim que as manifestações estão proibidas pelo estado de emergência, mas reconheceu que três delas seriam toleradas, anunciando o envio de cerca de 2 mil polícias para impedir atos de violência, como os que tiveram lugar há cerca de duas semanas, por ocasião da abertura da COP21, que termina hoje em Paris.

Quercus: Portugal precisa de rever política para cumprir objetivos

Numa primeira reação ao acordo que deverá ser conseguido, dentro de poucas horas em Paris, a Quercus congratulou-se pelo facto de dar um “sinal claro” para a transição energética assente nas energias renováveis, e por limitar a temperatura do planeta a 1,5 graus centígrados em relação à era pré-industrial, mas sublinha que é preciso fazer mais e que Portugal, em particular, tem de rever os seus compromissos.

“Estes novos objetivos enviam um sinal forte a todo o mundo de que a transição dos combustíveis fósseis para 100% de energias renováveis precisa de acontecer muito mais depressa e a uma escala muito maior”, afirma a associação ambientalista em comunicado, aplaudindo também o objetivo de reduzir para zero as emissões líquidas na segunda metade do século.

Mas se, por um lado, “todos os países acordaram neste caminho de eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, para a Quercus os vários países “falharam no avanço comum para esse objetivo”. Uma das principais falhas apontadas por aquela associação ambientalista é o facto de os compromissos nacionais já apresentados sobre estas matérias não terem de ser revistos antes de 2020, mesmo sabendo que as metas atuais de redução das emissões “não são suficientes para lidar com um aumento de temperatura que se pretende que seja ainda menor do que 2ºC”.

Portugal, como os restantes países, “terá de rever a sua política climática e energética” para cumprir os novos objetivos de limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus. Para a Quercus, isso passa por “rever a meta das energias renováveis”, acreditando ser possível atingir os 100% de eletricidade renovável em 2030; por acelerar a reabilitação urbana “com requisitos ambiciosos de eficiência energética” e por “rever a política de mobilidade com a promoção clara dos transportes públicos nas médias e grandes cidades, em detrimento da utilização do transporte individual”.