Pedro Passos Coelho diz estar preparado para voltar ao Governo para “completar um trabalho” que ficou a meio. Em entrevista à Rádio Renascença, o ex-primeiro-ministro e líder do PSD comentou a decisão de Paulo Portas, explicou ainda a “morte natural” entre PSD e CDS e sublinhou que não ficará “de braços cruzados” à espera que o Governo PS caia.
“Julgo que o PSD está preparado para voltar ao Governo para fazer o que não teve a possibilidade de acabar de fazer e eu, como primeiro-ministro que fui, de completar um trabalho que deixei a meio em termos de reforma estrutural”, diz Pedro Passos Coelho. “Nesse sentido, sim, acho que há condições para que isso possa acontecer. Mas não tenho, relativamente ao futuro, ideias cabalísticas, não tenho a mania que tenho mesmo que ser primeiro-ministro. Se voltar ao Governo é porque este falhou e a alternativa do PSD é melhor, mais confiável para as pessoas.”
Passos Coelho assegura que não ficará “de braços cruzados à espera que isto dê mau resultado”. Isto, leia-se o governo do Partido Socialista com apoio parlamentar de Bloco de Esquerda, Partido Comunista e Verdes. “É muito importante que o que deixámos por fazer possamos completar, mas que novas coisas e desafios possam emergir e merecer a confiança e o voto das pessoas. Essa é a minha missão como presidente do PSD.”
Quanto à decisão de Paulo Portas de abandonar a liderança do CDS, Passos Coelho diz respeitar a opção e admite ter refletido sobre o mesmo cenário no seu partido. Quanto ao afastamento entre PSD e CDS, considera ser uma “morte natural”, pois essa coligação servia apenas para o exercício da governação.
“Nunca conseguimos identificar um comprador para o Banif”
O ex-primeiro-ministro abordou ainda o tema Banif, o banco que caiu em dezembro, que poderá custar três mil milhões aos cofres do Estado. “É muito possível que esse custo esteja inflacionado porque a Direção-geral da Concorrência fez um desconto de 66% no valor dos ativos que o Banif tinha. É muito possível que esses ativos valham mais do que foram contabilizados para efeitos da resolução”, defende.
“Não vou dizer que as questões Banif e Novo Banco sejam independentes, claro que houve alguma relação entre as duas. Não tenho dúvida que durante o período em que o Banco de Portugal, através do Fundo de Resolução, estava a procurar vender o Novo Banco não se sentiria impelido a tomar uma decisão de resolução do Banif”, explica. E esclarece: “Nunca conseguimos identificar um comprador para o Banif. Por isso disse que, se estivesse no Governo, não teria uma solução muito diferente. Um banco que está em dificuldades ou é capitalizado pelos seus próprios acionistas ou é vendido.”
Embora admita que a solução não seria diferente, Pedro Passos Coelho deixou ainda uma crítica ao atual governo de António Costa: “Houve uma altura em que o BCE retirou o estatuto de contraparte ao Banif, porque ele já não tinha capacidade e ativos para poder aceder à liquidez do Banco de Portugal ou do BCE. Isso resultou de se ter andado a tratar da questão do Banif na praça pública. Uma vez que parece ter havido a preocupação de imputar tantas culpas ao Governo anterior, parece que não houve o cuidado de tratar este assunto com a reserva que ele devia merecer. O primeiro-ministro [António Costa], para marcar uma diferença com o anterior e dizer ‘eu não me escondo por trás do governador do Banco de Portugal’, quis anunciar a decisão do Banif quando quem decidiu resolver o Banif foi o Banco de Portugal“, pode ler-se na entrevista à Renascença.