E ao sétimo dia, Maria não descansou. De todo. Depois de um mar sem ondas na Nazaré, a candidata presidencial encontrou uma feira de Valongo de braços abertos para a receber. Ouviu, confortou, riu e abraçou. Esteve lá, na rua, de onde muitos chegaram a pensar que fugia. Segurou o volante – literalmente -, atacou Sampaio da Nóvoa como nunca e ainda foi a tempo de pôr a capa aos ombros, em Coimbra. Ai Maria, “quem [hoje] não [te] viu anda cego”, dedicaram-lhe os estudantes, através do fado de Zeca Afonso. Maria de Belém fez-se ver, tirou a prova dos nove e passou na oral com distinção. E o melhor é que o júri parece estar com ela.

Maria de Belém tem alguma hipótese de ganhar? Júlio Ribeiro, um reformado que não resistiu em cumprimentar Maria de Belém à passagem da ex-ministra, é otimista. “Claro. Só há dois candidatos. O Marcelo e a Maria de Belém. Mas eu vou votar na seu’tora. O outro já disse muitas coisas…”, responde ao Observador. E Sampaio da Nóvoa? “Oh, esse nunca fez nada na vida. Jogou à bola e mal. Agora, a Maria de Belém tem currículo jeitoso…”.

E não é que, pelo menos no sábado, a mensagem estava lá? Maria de Belém tem-se esforçado por isso. São 40 anos de serviço público, de defesa de causas e de obra feita, contra o falso profeta e o homem sem convicções. É isto que tem repetido desde o primeiro dia da campanha eleitoral. É isto que os seus apoiantes mais próximos – de João Soares até Manuel Alegre – têm repetido até à exaustão. E, a ver pela amostra, a rua está atenta. Ainda que esteja algo confusa.

“Dava uma boa Presidente. Basta ela ser do meu partido”, garante ao Observador Isabel Cabral, empregada de limpeza, indiferente ao facto de o PS não apoiar a ex-ministra da Saúde. ” Eu sei que não é apoiada. Mas é do PS”. E Marcelo? “Ui, nem me fale dele. É um babaum [assim mesmo, com sotaque nortenho]. Não gosto desse homem de maneira nenhuma“.

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A conversa estava boa e, nisto, aproxima-se o marido de Isabel, “um cota com 67 anos”, reformado, como se descreve. “O que estás a dizer?”, pergunta. “Olha, que vou votar na Maria”. “Oh menino, não acredite muito. Você não se deixe enganar pelas mulheres…”, diz ao Observador. Mas porquê? “Atenção, para mim as mulheres têm tanto direito como os homens. Olhe a do Bloco de Esquerda. Que luxo, colega. Mas a Maria de Belém acho que não serve. Percebo porque é que o PS não se entende…”. Isabel, a mulher, não desarma: “Olha, eu vou votar nela e pronto”.

É preciso seguir caminho antes de dar problemas lá em casa. Maria de Belém também vai seguindo, indiferente às conversas que a rodeiam e ao frio de rachar que faz em Valongo. Dá beijinhos, para em cada banca, tira selfies e ouve as preocupações. Garante que se for eleita vai ser a “provedora” de todos os portugueses. Critica os cortes nas pensões, assume as despesas da casa e promete ser atenta e vigilante. Por um país melhor e mais justo. Assim mesmo, olhos nos olhos.

E foi olhos nos olhos que falou às várias dezenas de apoiantes que se lhe juntaram no pavilhão da Escola Secundária de Fafe. “Eu não apareci só há quatro anos porque alguém me proporcionou ter feito uma intervenção numa qualquer realização pública” – Nóvoa foi convidado a discursar no 10 de junho de 2012, precisamente há quatro anos. Nem apareci “de terço na mão” para piscar o olho eleitorado católico – Nóvoa apareceu, numa entrevista. “Eu não sou uma malabarista das palavras, [nem me dedico a fazer] promessas proféticas” – o alvo? Nóvoa, pois claro. Três setas cravadas no homem que acabara de pedir a Maria de Belém apoio nas eleições. A resposta foi inequívoca: Maria de Belém ainda não se deu por vencida. Está no ringue, ainda de luvas calçadas.

Intervenção incendiária para gáudio dos fafenses. Coincidência ou não, a caravana da comitiva parou no quartel de bombeiros de Riba de Ave para a candidata deixar uma promessa: a luta está acesa, mas se ganhar as eleições, vai ser uma Presidente “preventiva”. Sem fogo cruzado a partir de Belém. Ainda assim, não vá o diabo tecê-las, a ex-ministra da Saúde experimentou o que é estar ao volante de um carro de bombeiros.

Desligou as sirenes e seguiu para Coimbra, onde foi recebida na República da Praça. Ao lado de Alberto Martins, Maria de Belém recordou os tempos de estudante naquela cidade e comprometeu-se com a causa estudantil: Portugal tem que bater o pé à Europa e não permitir que as restrições orçamentais continuem a obrigar milhares de estudantes a deixar o Ensino Superior. “E o Presidente tem o poder e o dever de chamar sistematicamente atenção. Não podemos sangrar mais o país”, nem permitir que Portugal continue a ser um exportador de talentos sem exigir contrapartidas. Disse-o assim mesmo, de forma assertiva e sem rodeios. Olhos nos olhos.

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Este domingo continua pelo distrito de Coimbra e volta a testar a popularidade, na feira de Cantanhede. Passará no exame?