Álvaro Beleza, antigo membro da direção do PS que ponderou disputar a liderança do partido com António Costa, diz que resultados das eleições presidenciais são um “aviso” ao partido, juntado-se ao coro de destacadas figuras socialistas que no domingo pediram união interna. Mas vai mais longe. Para o médico, estas eleições são também uma clara indicação que o eleitorado do centro-esquerda, que tem sustentado as vitórias do PS nos 40 anos de democracia, não tem uma posição “consensual” sobre os acordos com a extrema-esquerda e que, ou o PS tem “juízo”, ou vai ter “dificuldades” nas próximas eleições.

“Os resultados destas eleições são um aviso para esta frente de esquerda”, assumiu Álvaro Beleza em declarações ao Observador. O antigo dirigente socialista apoiava Maria de Belém e considera que é importante que o partido chegue a um consenso numas próximas presidenciais sobre um único candidato que apele ao centro do eleitorado, mas defende que há outras leituras a fazer, nomeadamente para o modelo de governação do país. “O eleitorado que defende o tal ‘tempo novo’ [expressão largamente utilizada por Sampaio da Nóvoa durante a campanha para ilustrar a viragem à esquerda nas legislativas e o que seria o seu mandato] teve apenas 35% dos votos. Isto prova que o eleitorado do PS oscila e tem votado em candidatos da direita”, considera o socialista.

Esta baixa percentagem agregada de toda a esquerda, segundo Álvaro Beleza, significa que “não são consensuais no eleitorado do PS os acordos fechados com a extrema-esquerda”. “O que o líder e primeiro-ministro do PS tem de perceber é que o partido é plural e complexo e que tem pessoas favoráveis a esses acordos, mas que tem uma grande parte do eleitorado social-democrata”, afirmou o antigo dirigente, indicando que o PS só pode ganhar votos se se mantiver ao centro e tiver cuidado ao “governar com a agenda do Bloco de Esquerda.

Catarina Martins, Mariana Mortágua e Marisa Matias são figuras interessantes, mas com muito populismo à mistura“, afirma Álvaro Beleza, que esteve quase a entrar no Parlamento, mas recusou em julho ir em lugar elegível nas listas do partido em Lisboa. Um dos próximos apoiantes de Seguro, Beleza garante que não se está a preparar qualquer “guerrilha dentro do partido” e que, tal como ele tirou conclusões dos resultados presidenciais, espera que António Costa – um homem que considera ser “arguto” e “pragmático” – também tire as suas.

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