Demitiu-se o vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Fernando Paes Afonso, que tinha a tutela direta dos jogos sociais da instituição. A demissão foi confirmada ao Observador pelo próprio, que justifica a decisão de abandonar a Santa Casa com “o entendimento” que faz do cargo e nega que isto esteja relacionado com as recentes polémicas que envolveram os Jogos Santa Casa.
A meio deste mês, o Observador publicou uma reportagem na qual Henrique Lopes, investigador principal da Unidade de Saúde Pública do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica, denuncia que jogos como a raspadinha têm um elevado potencial de criar dependência, algo que a Santa Casa terá ignorado, diz Lopes. Poucos dias depois, o Jornal de Notícias denunciava que havia casos registados de menores a apostar no jogo Placard, lançado recentemente.
De acordo com Paes Afonso, o pedido de exoneração do cargo não está relacionado com isto. “Nos termos dos estatutos, os membros da mesa são nomeados pelo Governo”, explicou ao Observador. O vice-provedor demissionário considera que “tem de haver uma relação de confiança política” nestes cargos, pelo que aproveitou “a mudança de Governo” para pôr o lugar à disposição. Fernando Paes Afonso é militante do CDS e foi nomeado pelo ministro Pedro Mota Soares (Segurança Social), com a concordância do provedor da instituição, Santana Lopes. Paes Afonso também já tinha exercido funções na Santa Casa durante o tempo em que Maria José Nogueira Pinto foi provedora.
“Este tipo de lugares são assim”, disse Paes Afonso ao Observador, considerando ter sido “um privilégio trabalhar na Santa Casa”, mais concretamente na área dos jogos sociais. “Foram quatro anos muito intensos”, acrescentou. Os resultados disso estão à vista em jogos como a raspadinha, disse. Esse jogo teve um grande aumento de vendas, representando hoje 48% das receitas daquele departamento, sublinhou.
“Da parte do Governo não houve qualquer discriminação política a nenhum dos membros da administração da Santa Casa”, esclarece esta entidade através de fonte oficial. “Não houve qualquer questão colocada pelo Governo relativa à confiança política dos membros da mesa. A correção do Governo foi total. Foi tudo tratado segundo as regas da boa educação pessoal e institucional entre o Provedor da Santa Casa, o primeiro-ministro e o ministro da tutela.”