A Caixa Geral de Depósitos (CGD) fechou o ano de 2015 com prejuízos de 171,5 milhões de euros, anunciou esta quinta-feira o banco do Estado. O produto bancário subiu 17,5% mas o banco registou um aumento de 4,9% dos custos operacionais, para 1.392 milhões de euros, um aumento em parte justificado por uma contabilização adiantada de custos relacionados com o programa de reformas antecipadas. José de Matos confia no regresso aos lucros em 2016 e lembra que, quando chegou ao banco, encontrou “um petroleiro“.
No ano anterior, o banco tinha tido prejuízos de 348 milhões de euros. Relativamente a 2015, o banco diz que excluindo as vendas das empresas de seguros e o custo com as reformas antecipadas o prejuízo teria ficado limitado a 106,5 milhões. A instituição sublinha, também, que os resultados antes de impostos corresponderam a um prejuízo de 21 milhões.
“Quando cheguei cá, há cinco anos, encontrei um petroleiro. Quando um petroleiro quer atracar em Lisboa quando chega ao Cabo de São Vicente já tem de vir a travar”, afirmou José de Matos. O presidente da CGD usou esta imagem para explicar a gradualidade com que o banco do Estado tem vindo a melhorar o balanço nos últimos anos, limpando-o de imparidades em “créditos antigos”, garante o responsável, lembrando que desde que chegou registou mais de 5 mil milhões de euros em imparidades.
“Quem estiver aqui daqui a cinco anos não terá de fazer as imparidades que nós tivemos de fazer. Garanto-vos“, atirou José de Matos, que se manifestou “orgulhoso” do trabalho feito nos últimos cinco anos.
Os prejuízos foram limitados pelos resultados com operações financeiras, nomeadamente a venda de títulos de dívida pública, que subiram 74% para 350 milhões. A margem financeira, indicador crucial para os bancos, cresceu 14,4% para 1.188 milhões. E, pela negativa, as imparidades baixaram 25% mas corresponderam, ainda, a 716,5 milhões.
311 pessoas já saíram no Plano Horizonte
O banco tem em curso um programa de redução de custos chamado Plano Horizonte, dirigido a pessoas com perto ou mais de 55 anos. A Caixa adiantou uma provisão para o Plano Horizonte de 65 milhões de euros, disse o banco. Em Portugal, o banco reduziu os colaboradores de 8.858 para 8.410. 311 destas saídas foram ao abrigo do Plano Horizonte. Houve mais de mil candidatos a este programa, no total, pelo que em 2016 podem sair várias centenas mais. De qualquer forma, o custo está aprovisionado para 2015 e, também, para 2016, diz o banco.
Na apresentação dos resultados anuais, nesta quinta-feira, o presidente da instituição, José de Matos, diz que o banco está “lentamente a recuperar a sua rentabilidade” e está com “níveis de capitalização adequados“. O presidente da Caixa diz que, com todos os fatores constantes, o banco poderá regressar aos lucros neste ano de 2016.
José de Matos, que está em fim de mandato mas que não comentou se aceitaria continuar (se convidado), diz que a equipa de administração que lidera, se sair, deixará o banco melhor do que o encontrou.
Ainda assim, sendo conhecidos os desafios que a instituição enfrenta (nomeadamente o reembolso da ajuda estatal), José de Matos diz que os “contactos” que teve com o acionista-Estado lhe dão confiança de que “o acionista, quando tiver tempo, porque tem questões mais urgentes, irá tratar” desses desafios com a atenção adequada.
“A CGD é um banco demasiado grande para não ser tratado com a atenção adequada”, afirmou José de Matos. Está em curso a preparação do Plano de Financiamento e Capital, um plano que José de Matos admite que poderá ter de intervir mas não necessariamente através de um aumento de capital – “é prematuro” falar dessa possibilidade, diz José de Matos.
O banco ainda não devolveu nenhuns dos 900 milhões de euros que recebeu num empréstimo estatal pelo qual paga um juro de cerca de 10%, ou seja, cerca de 90 milhões de euros por ano. O empréstimo tem de ser devolvido até junho de 2017, nos termos do plano de reestruturação que regeu esse empréstimo (na mesma altura que BCP, BPI e Banif também receberam).
Como os resultados da Caixa comparam com os dos outros
A CGD é o último grande banco português, com exceção do Novo Banco, a apresentar resultados anuais. Eis como BCP, BPI e Santander Totta retrataram a atividade no ano passado:
O BCP lucrou 235,3 milhões no ano, apesar de um prejuízo de 29 milhões no quarto trimestre que o banco justificou, sobretudo, com a atividade na Polónia. O banco liderado por Nuno Amado, que voltou aos lucros após quatro anos consecutivos de prejuízos, registou 595,4 milhões de euros em lucros em operações financeiras, mais de metade dos quais com venda de dívida pública portuguesa. Ainda assim, o banco aumentou a margem financeira (a diferença entre o custo que paga pelo financiamento e os juros cobrados) em 16,6%, para 1.302 milhões, “essencialmente suportada no desempenho positivo da atividade em Portugal”.
O BPI ganhou 236 milhões de euros, com a margem financeira a disparar 29% para 663,4 milhões – o facto de o BPI já ter devolvido o empréstimo estatal ajudou a melhorar a margem financeira. O banco destacou os resultados positivos na atividade doméstica, que contribuíram para os lucros totais com mais de 90 milhões de euros. Por outro lado, o banco registou menos 29% em provisões e imparidades (137 milhões), o que ajudou à prestação do banco no ano passado.
O Santander Totta aumentou em 50,9% os lucros, para 291,3 milhões de euros. O banco diz que “esta evolução é reflexo do aumento das receitas (14,9%) — o chamado produto bancário — e da diminuição dos custos. Houve 293,5 milhões de euros em lucros com operações financeiras (basicamente venda de títulos de dívida pública), quase uma duplicação face ao valor do ano anterior. O montante ganho com a venda de dívida pública acabou, contudo, por ser consumido com a tomada de provisões por parte do banco: 227 milhões de euros. O banco destacou, também, uma descida do rácio de crédito em risco, o que também ajuda os resultados, com este a cair para 4,39%, contra os 5,55% do ano anterior.