Por estes dias só quem corre por gosto ou é mesmo viciado na corrida enfrenta o frio e a chuva para se aventurar na estrada. Mas é só uma questão de tempo até o calor chegar e conquistar ainda mais pessoas para uma atividade tão na moda. Esse acréscimo de corredores traduz-se, infelizmente, num aumento de lesões e, consequentemente, no fim do sonho de acabar com os quilos a mais do inverno.
Apesar de as lesões nos corredores serem extremamente comuns, o The New York Times escreve que as razões para que isso aconteça continuam por descobrir. Alguns estudos dizem que se deve ao excesso de peso, aos ténis de corrida modernos, às ancas fracas, à alimentação ou até ao pavimento. Outros dizem que o maior indicador de uma futura lesão é uma lesão passada, ou seja, nada esclarecedor.
Em dezembro do ano passado saiu um outro estudo, publicado no British Journal of Sports Medicine, feito por investigadores da Harvard Medical School e de outras universidades que decidiram focar-se num aspeto que nunca é estudado: pessoas que correm há muito tempo e nunca se lesionaram.
Os investigadores juntaram 249 corredoras femininas com experiência, todas conhecidas por tocarem no chão primeiro com os calcanhares enquanto correm – muitos entendidos na arte da corrida defendem que tocar com o centro do pé no chão causa um impacto menor do que com os calcanhares, logo previne lesões.
As voluntárias foram seguidas durante dois anos pelos investigadores e, neste tempo, mantiveram um diário online de corrida e de lesões. Ao longo desse tempo, mais de 100 mulheres disseram ter contraído uma lesão grave o suficiente para terem de ter acompanhamento médico, 40 tiveram lesões pequenas e as restantes não se lesionaram nenhuma vez.
Ou seja, 21 por cento das corredoras não só não se magoou nesse período como também não se magoou antes de participar no estudo. Com estes resultados, os investigadores compararam as lesionadas com as não lesionadas e concluíram que aquelas que permaneceram sem mazelas aterravam de forma muito mais leve do que as lesionadas, independentemente de variantes como o peso ou a distância percorrida.
Estas descobertas contrariam a ideia de que os corredores não podem colocar o calcanhar no chão primeiro, mesmo que de forma suave. Irene Davis, autora do estudo e professora em Harvard disse ao The New York Times que “uma das corredoras que estudámos, uma mulher que correu diversas maratonas e que nunca se magoou, tinha a menor taxa de carregamento [no chão] que alguma vez vimos”, acrescentando que vê-la correr era como “ver um inseto a correr sobre a água” — uma variação da conhecida letra da música “ela não corre, ela desliza”.
O segredo para quem corre passa por aterrar o mais suavemente possível. Aqueles que travam longas batalhas com lesões devem optar por aterrar mais com o centro do pé, uma vez que a aterragem de calcanhar tende a ser mais brusca. Outra dica da professora passa por aumentar ligeiramente a cadência – número de passos que dá por minuto – já que tende a reduzir o impacto de cada passada. Apostar na delicadeza parece ser a chave para estar preparado para todas as maratonas que se avizinham.