As jornadas parlamentares do PSD, em Santarém, arrancaram com um ataque cerrado a António Costa. Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD, acusou o primeiro-ministro socialista de querer “mandar” no Banco de Portugal. Uma atitude que, diz o social-democrata, faz parte de um plano maior: PS, Governo e parceiros parlamentares querem tornar-se “os donos disto tudo”.

“António Costa e os seus apoiantes – e o próprio PS – estão a indiciar a vários níveis que se querem transformar mesmo nos ‘donos disto tudo’. Quiseram governar, depois de terem perdido as eleições. Estão a tomar de assalto o aparelho do Estado. [A TAP] é para mudar a bem ou a mal” – até “o famoso sms” que António Costa enviou a João Vieira Pereira, diretor-adjunto do Expresso, foi lembrado por Luís Montenegro.

Tudo, para chegar ao Banco de Portugal e às declarações de António Costa, que, na quarta-feira, acusou o governador do Banco, Carlos Costa, de irresponsabilidade no caso dos lesados do BES. Ora, para Luís Montenegro, as palavras do primeiro-ministro constituem um “ataque vergonhoso e despudorado” que está “em marcha contra o Banco de Portugal”.

“Primeiro-ministro, ministro das Finanças, líder parlamentar do PS, [estão] todos a tocar a mesma música, todos a perder a vergonha e a querer trazer de volta a Portugal os temos de asfixia e da claustrofobia democrática“, atirou Luís Montenegro, antes de sublinhar: “O Governo não pode intrometer-se, influenciar, interfir na independência do Banco de Portugal”.

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O líder da bancada parlamentar do PSD lembrou, inclusive, os estatutos dos bancos centrais, inscritos nos tratados europeus e que asseguram a independência dos reguladores. Se Costa está a interferir com o Banco de Portugal, então, diz Montenegro, só prova que não “está preparado para exercer as suas funções, porque desconhece o quadro em que deve intervir”.

“É uma vergonha” e “é ilegítimo que o PS e o dr. António Costa queiram mandar no Banco de Portugal. Não se pode condicionar, interferir, [nem] querer, objetivamente, pressionar” o regulador. Ou “mudar para poder mandar no Banco de Portugal. É isso que o dr. António Costa quer fazer no BdP”, insistiu o social-democrata.

Este Orçamento “tem a marca do eleitoralismo”

O líder da bancada parlamentar do PSD lançou-se, ainda, ao Orçamento do Estado apresentado pelo Governo socialista. De resto, Luís Montenegro não tem dúvidas: “[Este Governo] iniciou funções, mas já está a preparar-se para cessar funções. Entrou em campanha eleitoral” e “só está interessado em gerir a sua sobrevivência” e a sobrevivência de António Costa.

Prova disso mesmo, sublinhou, é a receita orçamental escolhida. Mais impostos, mais rendimentos, menos horas laborais, a mesma qualidade dos serviços – ou o prometido “milagre das rosas”, mesmo “à boa tradição socialista”, comentou Luís Montenegro, com ironia.

O líder da bancada social-democrata aproveitou para fazer um rewind até 2011. “Nós, [Governo PSD/CDS], herdámos dívida, herdámos recessão económica, herdámos desemprego e herdámos desconfiança” e devolvemos um país em “equilíbrio”, em “recuperação”, a crescer e com credibilidade externa.

O que o PS se prepara para fazer, diz Montenegro, “é desbaratar todo o esforço que foi encetado“, em nome de uma posição “revanchista” e “eleitoralista”, através de um Orçamento que vai trazer “um prejuízo muito grande para a vida dos portugueses. Quem está a fazer este Orçamento não deve estar a contar fazer um segundo”, reiterou.

Ainda uma palavra sobre a TAP e a eventual entrada de capital chinês na companhia aérea: o deputado do PSD acusou o Governo socialista de estar a conduzir o processo com “arrogância e opacidade“.

“O Governo acha que não tem de dar explicação nenhuma. Enchem a boca para dizer que vão ao Parlamento dar justificações. E vão. Mas depois não dizem nada. E omitem. [O PS] está a ter uma atitude velada, de esconder e de ocultar” uma “solução que pode vir a ser bem lesiva para os contribuintes e para os interesses do país”. Mais uma prova, considera Luís Montenegro,  de que o Executivo socialista “está desnorteado do exercício das funções”.