Se o PS não está em campanha eleitoral, parece. Num jantar de jornadas parlamentares juntou 672 pessoas, os deputados andaram de terra em terra no distrito de Vila Real e até houve direito ao discurso bélico contra a oposição de alguns responsáveis. No fim, houve direito a um inopinado elogio a Marcelo Rebelo de Sousa saído da segunda figura do Estado.

Ferro Rodrigues foi o convidado especial da noite das jornadas e subiu ao púlpito por entre o barulho de pratos do verdadeiro jantar de campanha para deixar três mensagens essenciais.

1 – Com Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente, espera o Presidente da Assembleia da República, “voltaremos em breve a ter um clima político menos tenso e mais dialogante entre todos os principais órgãos de soberania“, tudo porque um Presidente “quando consegue estar bem sintonizado com o povo, pode ser um mobilizador de energias e pode contribuir para as convergências estratégicas necessárias”;

2 – As mudanças no PSD e no CDS são bom sinal para o diálogo – para o Presidente, há várias “combinações possíveis” entre os partidos. “Estou, aliás, convencido que as mudanças de liderança no CDS e as mudanças de posicionamento ideológico anunciadas pelo PSD são já o prenúncio de que este novo tempo político veio para ficar e que a partir daqui nada voltará a ser como dantes. Os movimentos no campo da direita parlamentar são o melhor reconhecimento político disso mesmo”, defendeu;

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3 – Além de aprovar o Orçamento do estado, é preciso executá-lo com precisão – O recado foi dado por Ferro na pele de militante socialista. Mas deixou o aviso: “Podemos pensar que o mais difícil já passou, mas isto ainda agora começou” e por isso pede uma boa execução orçamental porque lá fora há olhos à espreita. “O sucesso da nova fórmula política é indissociável do sucesso da execução orçamental. Os portugueses estão atentos e as instituições europeias, com melhores ou piores intenções, não estarão menos atentas”, disse.

Ferro só disse o que muitos repetiram ao longo do dia, desde Carlos César ao eurodeputado Pedro Silva Pereira. E se os dois últimos falaram das fragilidades externas que ainda persistem, também apontaram culpas a outros intervenientes. “Não se poupam em ações de prejuízo do nosso país como também prejudicando a imagem externa de Portugal em instituições que têm decisões pendentes” sobre o país, disse o líder parlamentar a arrancar o discurso da noite embalado pela moldura humana.

César só sintetizou o que Silva Pereira tinha dito à tarde, acusando alguns membros da direita de “na sombra prejudicarem” os interesses do país. Recados saídos para a direita. Já para a esquerda, que causou um embaraço no arranque das jornadas nem palavra.

Os socialistas sabiam da proposta do PCP e esperavam que ela aparecesse a qualquer hora e desde a primeira hora que desvalorizaram a questão, esvaziando o balão e evitando que o tema “renegociação da dívida” se transformasse num elefante na sala das jornadas parlamentares.

Para os socialistas, a proposta do PCP é mais um momento da marcação entre comunistas e bloquistas e por isso será mais um posicionamento político do que prático, disseram ao Observador duas fontes da bancada parlamentar, com um discurso afinado.