Charlize Theron como Imperator Furiosa em “Mad Max: Estrada da Fúria”, de George Miller. Jennifer Lawrence como Katniss Everdeen na série de filmes “Hunger Games”. Daisy Ridley no papel de Rey em “Star Wars: O Despertar da Força”. De repente, parece que o cinema se lembrou que as mulheres também podiam ser heroínas de filmes de ação, nomeadamente de ficção científica, e as telas ficaram cheias de títulos protagonizados por raparigas e mulheres que pedem meças aos rapazes e aos homens num departamento que supostamente seria só deles.
Não é bem assim. Primeiro, porque apesar de não estarem em maioria, as heroínas de ação formam já uma apreciável lista no cinema, não só no americano como no asiático, e neste graças aos filmes de artes marciais e históricos produzidos primeiro em Hong Kong, e agora na China. Recordemos, entre muitas outras, a Ripley de Sigourney Weaver na série “Alien”, a Neytiri de Zoe Saldaña em “Avatar”, de James Cameron, e suas próximas continuações, Uma Thurman em “Kill Bill”, a “Lucy” de Scarlett Johansson (também a Viúva Negra nos filmes da Marvel), a Alice de Milla Jovovich na série “Resident Evil”, Angelina Jolie como Lara Croft nos dois “Tomb Raider”, e em “O Coleccionador de Ossos”, “Procurado” ou “Salt”, Jennifer Garner em “Elektra”, as chinesas Gong Li, Zhang Ziyi ou Michelle Yeo, só para referir as mais conhecidas no Ocidente, ou ainda as pioneiras Pam Grier, celebrizada como Coffy, Foxy Brown ou Sheba Baby nos filmes homónimos de “blaxploitation” dos anos 70, e Cynthia Rothrock, a rainha das fitas de série B, cinturão negro em sete disciplinas de artes marciais e ainda a mexer e a bater em vilões e vilãs com quase 60 anos.
[Sigourney Weaver como Ripley]
[Cynthia Rothrock, a rainha das artes marciais]
Por outro lado, o sucesso das séries de livros fantásticos e de ficção científica para adolescentes com protagonistas femininas, como é o caso de “Hunger Games” ou “Divergente”, que são adaptados ao cinema com enorme sucesso comercial, a irrupção dos filmes de super-heróis, em cujo universo não faltam super-heroínas, a perceção por parte dos grandes estúdios de que há um público – e não necessariamente todo ele feminino – para ver cinema de ação nas suas várias declinações com mulheres nos papéis principais, e a coincidência dos calendários de produção e de estreia de várias destas fitas, fazem que se vejam cada vez mais obras do género – se bem que não necessariamente melhores – onde as mulheres querem, podem e mandam, lidando de igual para igual com os homens, relegando-os para segundo plano ou fazendo deles piões das nicas. Eis seis atrizes que estão em particular destaque num exigente ecossistema cinematográfico em que os homens têm decididamente que se habituar à companhia, e à concorrência, das mulheres.
CHARLIZE THERON
A atriz sul-africana já tinha dado boa conta de si em “Um Golpe em Itália”, de F. Gary Gray, e em “Aeon Flux”, de Karyn Kusama, mas a sua Imperator Furiosa em “Mad Max: Estrada da Fúria”, onde cedo toma conta das operações e deixa o Max de Tom Hardy praticamente a apanhar bonés, rebentou a escala por onde se medem as heroínas de ação. Segundo declarações de George Miller, a mulher do braço mecânico e da vontade de ferro não deverá aparecer no próximo filme da série, embora haja um argumento para um quinto filme intitulado “Mad Max: Furiosa”. Aguardemos. Entretanto, Charlize vai aparecer em “O Caçador e a Rainha do Gelo”, continuação de “A Branca de Neve e o Caçador”, onde retoma o papel de Ravenna, a rainha má e com poderes mágicos, e personificar uma espia americana num “thriller” de Guerra Fria ambientado em Berlim, “The Coldest City”, de David Leitch.
JENNIFER LAWRENCE
O seu evidentíssimo talento (basta ver filmes como “Despojos de Inverno”, “Guia para um Final Feliz”, “Golpada Americana” ou “Joy”) dita que Jennifer Lawrence não só não corre o perigo de ficar colada para sempre às personagens de ação de “Hunger Games” (onde a sua Katniss Everdeen era a única coisa que se aproveitava) e dos filmes da série “X-Men”, onde interpreta Raven/Mystique, como também que ela está nas suas sete quintas quer a ponham em perigo num futuro totalitário, a dotem de super-poderes ou lhe deem personagens que circulam pelo mundo real e quotidiano. Mas por acaso, o seu próximo filme é uma aventura de ficção científica, “Passengers”, de Morten Tyldum. Lawrence interpreta a passageira de uma nave que transporta milhares de pessoas para um planeta que está a ser colonizado, mas é despertada antes do tempo do seu sono artificial devido a uma estranha avaria nas câmaras de sono.
https://youtu.be/Ttb51c7CZ_U
DAISY RIDLEY
Esta jovem e desconhecida atriz inglesa sucede a Carrie Fisher como principal figura feminina da série “Star Wars” nos novos filmes que se seguem às duas trilogias tuteladas por George Lucas, e sai-se mesmo muito bem no papel de Rey, a Cavaleira Jedi que ignora que o é, em “O Despertar da Força”, de J.J. Abrams. Mas Rey tem muito mais para fazer do que a Princesa Leia de Fisher, posicionando-se claramente como a nova personagem mais importante da série, bem como a mais imediatamente carismática, convincente e destemida. Daisy Ridley vai seguir para o próximo filme, “Star Wars: Episode Eight”, e pelo final de “O Despertar da Força”, com o encontro de Rey com Luke Skywalker, parece óbvio que a importância da personagem irá continuar a crescer, e que a atriz continuará a habitá-la com a segurança e a energia que já demonstrou.
GAL GADOT
Quem segue (ainda) os filmes da série “Velocidade Furiosa” conhece esta modelo e ex-Miss Israel, que além de estar a fazer carreira no cinema de ação puro e duro, conseguiu o suculentíssimo papel de Diana Prince, a Mulher Maravilha, no filme homónimo (realizado por outra mulher, Patty Jenkins, a autora de “Monstro”), e ainda em “Batman vs Super-Homem: O Despertar da Justiça”, de Zack Snyder, e nas duas primeiras partes de “Justice League”, assinados pelo mesmo realizador, que se vão estrear este ano e nos seguintes. Não contente com isto, Gadot entra também em dois novos “thrillers”: “Triple Nine”, de John Hillcoat, ao lado de Kate Winslet, Casey Affleck, Woody Harrelson e Chiwetel Ejiofor, e “Criminoso”, de Ariel Vromen, contracenando com Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Gary Oldman e Ryan Reynolds.
QI SHU
Aqueles que acompanham com atenção o cinema asiático conhecem bem a taiwanesa Qi Shu, uma das suas maiores vedetas, que começou a carreira no cinema erótico mas cujas qualidades de atriz rapidamente se manifestaram e a levaram a protagonizar filmes de realizadores do calibre de Stanley Kwan ou Hou Hsiao-Hsien. A versátil Shu também se tem distinguido no cinema de ação e artes marciais, dirigida por nomes como Corey Yuen ou Wilson Yip, e contracenando por exemplo com Jackie Chan. Vamos vê-la em breve em “The Assassin”, um sumptuoso drama histórico de artes marciais realizado por Hou Hsiao-Hsien, Melhor Realizador em Cannes. O filme é passado na China do século IX e Qi Shu interpreta uma implacável assassina profissional a quem é dada a missão de eliminar uma poderosa figura do governo imperial, que é também o homem que outrora amou.
MICHELLE RODRIGUEZ
Se houvesse um título para dar a Michelle Rodriguez, seria o de “Operária do Cinema de Ação”, tantos, tão diversos e de qualidade tão variada, e quase sempre em papéis de segundo plano, são os filmes do género que ela, revelada em 2000 no excelente “Girlfight”, de Karyn Kusama, tem desempenhado. Rodriguez é participante regular nas fitas de “Velocidade Furiosa”, entrou em “Resident Evil”, em “Avatar”, em “BloodRayne”, em “S.W.A.T-Força de Intervenção” ou em “Machete”. Tem pelo na venta, dá boa conta de si mesmo que seja a única mulher presente e não deixa nunca que façam farinha com ela, quer combata vampiros, invasores alienígenas, mafiosos ou ladrões de bancos. Vai aparecer no próximo filme do grande Walter Hill, “Tomboy”, um policial, ao lado de Sigourney Weaver, e estamos a torcer para que seja desta que chegue a promoção à primeira categoria.
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