O guarda-chuva até pode ter sido o melhor acessório da Semana de Moda de Milão (fora os pompons) mas nem a precipitação ou o frio pararam Miguel Vieira e Carlos Gil. Depois da estreia em setembro, os criadores portugueses voltaram a território italiano para provar que a etiqueta “made in Portugal” merece mesmo estar presente no calendário oficial habitualmente ocupado por nomes como Prada, Moschino, Gucci, Versace, Roberto Cavalli e Dolce & Gabbana.
Se a 28 de fevereiro, às 16h, Salvatore Ferragamo estava na Piazza Affari a apresentar a sua coleção de outono/inverno 2016-17, Carlos Gil estava no The Mall a abrir as hostilidades com propostas coloridas, inspiradas em tendências vintage. “Eu tive a sorte de ter uma avó que se veste bem”, começou por dizer ao Observador momentos antes do desfile. E a verdade é que as pregadeiras, saias trespassadas e rendas clássicas foram as estrelas principais da coleção. O designer de moda, natural do Fundão, misturou padrões de flores, cores alegres e texturas como pelo e pedras para vestir a mulher Carlos Gil “que é muito sensual e elegante”.
Os elementos desportivos como sweaters e casacos bomber — uma das grandes tendências atuais — trouxeram o conforto para a próxima estação fria. Já a sensualidade chegou em forma de transparências e brilhos, duas inspirações já muito vistas na Semana de Moda de Nova Iorque e, agora, nesta Milano Moda Donna, a segunda semana de moda mais importante do mundo depois de Paris (onde Luís Buchinho e Diogo Miranda encerram a campanha internacional do Portugal Fashion dias 4 e 5 de março, respetivamente).
Miguel Vieira, por sua vez, deixou muita gente surpreendida quando em vez da habitual paleta composta por preto e branco, apresentou um desfile para mulher e homem em tons de amarelo mostarda e azul-marinho escuro. “Raramente trago cores para a passerelle mas esta estação apeteceu-me transmitir emoções através da cor”, explicou. “Se o amarelo é alegria e energia, o azul-marinho representa a confiança e sabedoria”. Tudo atributos que classificam (e bem) a musa Miguel Vieira.
Na coleção intitulada “cor”, o criador de São João da Madeira apostou em casacos com lenços de borboletas para eles e em vestidos com folhos e franjas para elas. A quem Miguel Vieira se manteve fiel foi à elegância, cortesia de silhuetas largas e detalhes minimalistas com aplicações de pelo. Ou seja, com chuva ou com sol — com mais chuva que sol, na verdade — Milão vestiu português este fim de semana. E ficou-lhe bem.
O Observador viajou para Milão a convite do Portugal Fashion.