Marcelo Rebelo de Sousa foi contido nas citações e centrou-se nos autores portugueses dos séculos XIX, XX e XXI, mas usou-os em pontos estratégicos do seu discurso. Houve uma mensagem para o exército, uma afirmação da unidade territorial de Portugal e da sua vocação marítima, e, por último, um apelo à essência da alma portuguesa. Sempre com a mesma intenção: os portugueses não devem desanimar, já que, devido à sua cultura, o país é maior do que as suas fronteiras terrestres.

Foi neste apelo, através de Miguel Torga, que o novo Presidente disse ao país que é preciso maior mobilização e acreditar no futuro, apesar das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. A passagem referida por Marcelo é retirada do Caderno XV do autor português, onde este afirma que o difícil para cada país “é compreender-se”. “A paixão tolda-nos a vista. Daí a espécie de obscura inocência com que atuamos na História. A poder e a valer, nem sempre temos consciência do que podemos e valemos. Hipertrofiamos provincianamente as capacidades alheias e minimizamos maceradamente as nossas, sem nos lembrarmos sequer que uma criatura só não presta quando deixou de ser inquieta“, escreveu Torga.

“O essencial, é que continuamos a minimizar o que valemos”, concluiu o Presidente.

Mas Marcelo Rebelo de Sousa continuou a citar Torga para passar também uma mensagem de esperança e de um futuro melhor para todos os portugueses. “Não somos um povo morto, nem sequer esgotado. Temos ainda um grande papel a desempenhar no seio das nações, como a mais ecuménica de todas. O mundo não precisa hoje da nossa insuficiente técnica, nem da nossa precária indústria, nem das nossas escassas matérias-primas. Necessita da nossa cultura“, leu o Presidente da República perante o Governo, os deputados e os convidados para a tomada de posse.

Um dos primeiros apelos de Marcelo Rebelo de Sousa foi para as forças armadas — de que é agora o chefe supremo — e utilizou as palavras de Mouzinho de Albuquerque, tenente-coronel essencial nas campanhas em África no séc. XIX e que foi também tutor do príncipe D. Luís Filipe de Bragança. Numa carta dirigida ao príncipe, Mouzinho de Albuquerque afirmou que “este Reino é obra de soldados” e o novo Presidente utilizou esta expressão para caracterizar o país e reforçar o papel das Forças Armadas em Portugal. Foi Mouzinho que comandou a campanha que, em 1895, levou a captura do imperador nguni Gungunhana em Chaimite.

Já o escritor António Lobo Antunes foi usado para explicar a importância da continuidade do território de Portugal entre o continente e as ilhas, mas também a importância do mar e do aproveitamento dos seus recursos, mostrando que, apesar de ter uma dimensão média em comparação com outros países, Portugal é maior devido às suas múltiplas dimensões e à sua história. “Se a minha terra é pequena, eu quero morrer no mar“, citou o Presidente, usando as palavras de António Lobo Antunes.

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