Os trabalhadores do Diário Económico esperam que haja uma proposta de investidores para salvar o projeto e exigem o pagamento dos salários em atraso, disse esta quinta-feira à Lusa um delegado sindical, no dia em que fazem greve.
“Há um processo de venda, que por esta ou por outra razão, acabou por não vingar, mas há possibilidade de entre o tecido empresarial português, por exemplo, investidores poderem unir-se e avançarem com uma proposta de compra do jornal”, disse à agência Lusa o delegado sindical e membro da Comissão Instaladora da Comissão de Trabalhadores do Diário Económico, Paulo Jorge Pereira.
A greve de 24 horas visa o pagamento dos salários em atraso, pois “apesar da violação de que são alvo” em relação “a um direito elementar”, os trabalhadores “têm assegurado o regular funcionamento da empresa”, salientou.
Com a jornada de luta de hoje, os trabalhadores querem também “chamar à atenção da sociedade civil”, para que se possam unir “esforços para ajudar a manter uma empresa que é viável, um projeto que é líder no seu segmento, no papel e no ‘online’, que tem televisão e que faz um trabalho absolutamente notável todos os dias”, realçou Paulo Pereira.
No fundo, “é a defesa dos postos de trabalho que está aqui em causa” esclareceu, lembrando que “é drástica a situação de degradação das condições de trabalho”. Mas, apesar do “sofrimento diário”, das dificuldades no âmbito das condições de trabalho, no atraso do pagamento dos salários, com consequências a nível das famílias, os trabalhadores estão a “dar o seu melhor no dia-a-dia e a manter a funcionar o projeto”, sublinhou.
“Os trabalhadores têm assegurado a continuidade do projeto e estão disponíveis para assegurar a continuidade e a sua viabilidade, desde que sejam respeitados os seu direitos elementares e a partir do momento em que haja uma proposta viável, a empresa tem todas as condições para regressar à normalidade do funcionamento de todos os dias”, realçou.
“Estamos numa luta titânica para que o jornal chegue às bancas, o ‘site’ esteja a funcionar e a televisão esteja a operar”, acrescentou.
“Ter mais meios de comunicação social em Portugal não é mau, é bom, porque nos ajuda a ter uma sociedade mais pluralista, mais democrática e a defender a liberdade de expressão”, sublinhou.
Na semana passada, os trabalhadores do Diário Económico, Económico TV e Economico.pt entregaram o pré-aviso de greve de 24 horas, através do SJ e do Sindicato Democrático dos Trabalhadores das Comunicações e dos Media (Sindetelco), esclarecendo que a paralisação seria desconvocada ou suspensa logo que fossem pagos os salários de janeiro.
Entretanto, a direção editorial do Económico apresentou na terça-feira a demissão do cargo, tendo o administrador Gonçalo Faria de Carvalho afirmado, numa comunicação interna, que iria procurar encontrar “com maior brevidade possível” uma alternativa para a condução do projeto.
Na carta de demissão enviada à administração, a que a Lusa teve acesso, o diretor, Raul Vaz, e os subdiretores Bruno Faria Lopes, Francisco Ferreira da Silva e Tiago Freire afirmam que, na “sequência da comunicação de 23 de fevereiro, e na ausência de soluções para os constrangimentos às condições de trabalho no Económico então reportadas, a direção editorial apresenta a sua demissão”.
“Naturalmente, e no espírito construtivo que sempre a moveu, a direção está disponível para assegurar o normal funcionamento do jornal, televisão e ‘site’, aguardando que a administração tome, o mais depressa possível, as decisões relativas ao futuro da direção do Económico”, referem na carta.
A Ongoing Strategy Investments, ‘holding’ do grupo que detém o Diário Económico, entrou na semana passada em processo especial de revitalização (PER) de empresas devido às dificuldades financeiras, tendo sido nomeado já um administrador judicial provisório. O Económico, incluindo televisão e jornal, emprega cerca de 138 pessoas.