Gosta de partir à aventura sem fazer demasiados planos e escolher o que ver depois de sair do aeroporto? Se é o tipo de pessoa que se desgasta com o tempo perdido a fixar roteiros prévios e a reservar estadias antes de viajar para um lugar desconhecido, saiba que agora é muito mais fácil fazê-lo no próprio local de destino.
Não precisa de se preocupar com a consulta de dados ou telefonemas sujeitos a taxas de roaming, pode fazer pesquisas no smartphone, utilizar apps de geolocalização, reservar bilhetes, marcar mesas em restaurantes e, até, pesquisar na internet o hotel mais perto de si. Fica também mais à vontade para fazer e partilhar a sua reportagem fotográfica nas redes sociais ou para falar com a família e amigos, porque paga o mesmo que se estivesse em Portugal. Por isso pode também enviar emails de trabalho sem se preocupar com o peso dos anexos. Tudo isto, porque a Vodafone eliminou as tarifas de roaming na União Europeia.”
Para partilhar com quem mais gosta a sua experiência de liberdade, nada melhor do que lançar-se a um dos destinos mais interessantes da Europa. Com uma oferta cultural muito concentrada, a capital austríaca exige-lhe, porém, mais do que um dia no local. Num tempo em que as cidades se redesenham, pense-se nas Dockland de Londres, ou nos novos projetos arquitetónicos de Beijing ou na nova baixa de Manhattan, Viena não quis ficar para trás.
Com o MQW (MuseumsQuartier Wien – Quarteirão dos Museus de Viena), a equipa de arquitetos austríacos Ortner & Ortner soube estabelecer a todos os níveis um elo sólido e vistoso entre diversos espaços urbanos, entre o antigo e o moderno, entre a arte e o lazer, intensamente próximos. A renovação do conjunto classificado monumento histórico foi confiada a Manfred Wehdorn.
Mas o que há de tão fascinante no MQW? Trata-se de um biótopo urbano das artes. E o que é um biótopo? A resposta é simples, pois a etimologia explica: o “bio” vem-lhe das gentes, dos turistas, dos amadores e dos profissionais das artes e da cultura, das crianças e dos seus pais, que em finais de tarde, feriados e fins de semana, frequentam um determinado lugar. E o “topos” é, justamente, um lugar: um lugar vivo, dinâmico, enérgico; um fluxo de animação, uma alma.
O MQW é um espaço contemporâneo no coração de uma cidade de traços imperiais. Este bairro de aglomeração artística (são mais de 40 instituições!) é um dos dez maiores complexos culturais do mundo. Estende-se numa área de 60.000 m2 onde se privilegia a arte moderna e contemporânea. Será muito útil passar os olhos pelo smartphone para consultar as agendas de exposições temporárias e fazer um circuito para o dia, à sua medida.
Arquitetura e história
Situado nas imediações dos monumentos mais visitados de Viena, o MQW constitui-se, com o seu imenso pátio interior, salpicado de restaurantes, esplanadas, lojas e galerias, como um cruzamento cultural antielitista e hipermoderno, ao mesmo tempo que se revela um oásis urbano. Os edifícios foram todos revitalizados no quadro do projeto do quarteirão cultural, em que cada espaço específico foi adaptado a novas funções.
O conjunto arquitetónico revela tendências de diferentes épocas. Os edifícios mais antigos datam dos séculos XVIII e XIX, bem como a mais extensa fachada Barroca de Viena (as antigas cavalariças imperiais) e surgem (des)alinhados com as construções museológicas contemporâneas, como é o caso das estruturas dos três museus aqui presentes.
E não há dúvidas quanto ao porquê de tamanha mudança na aparência tradicional do centro de Viena. A particularidade do bairro está nos seus contrastes: o Leopold Museum apresenta-se com um paramento de pedra calcária branca num grande cubo maciço; o Museum Moderner Kunst Stiftung Ludwig Wien (MUMOK) ergue-se num imenso bloco de basalto cinzento antracite (um carvão fossilizado, húmido, negro, compacto e brilhante); o terceiro edifício apresenta-se todo em tijolo, acolhendo a Architekturzentrum Wien, abrigado por detrás do edifício clássico dos grandes Halls, encimado pela inscrição “Francisco José”, onde está instalada a Kunsthalle Wien.
Paremos um pouco por aqui para conhecermos, um a um, estes museus. Mas antes, vale a pena ver as fotografias já tiradas, apagar as excedentárias e partilhar com os amigos as que irão fazer a diferença junto dos apreciadores de arquitetura.
Três museus
Se nos situarmos no interior do MuseumsQuartier Wien, ultrapassando a fachada das antigas cavalariças imperiais austro-húngaras, de frente paras os grandes Halls, encontra-se, à esquerda, o Leopold Museum, que abriga a coleção, outrora privada, de Rudolf Leopold. Nos seus cinco pisos, banhados pela luz que entra pelas aberturas na camada de pedra calcária branca, estão expostas as obras de pintores austríacos dos séculos XIX e XX.
Podem ser vistas as telas datando da Viena de novecentos, assinadas por Gustav Klimt, Richard Gerstl, Koloman Moser ou Oskar Kokoschka. Mas aqui também marca presença a mais importante coleção existente em todo o mundo de Egon Schiele e um importante acervo de gravuras de Goya, muito próximo do que se poderia designar por bestiário. E se no momento quiser saber mais sobre um dos artistas expostos, esqueça que está fora de Portugal, sente-se confortavelmente e faça uma pesquisa rápida no seu smartphone, pois não pagará mais por isso.
De regresso ao ponto de partida, encontramos do lado direito deste conjunto de edifícios, o museu de arte moderna e contemporânea – Museum Moderner Kunst – Stiftung Ludwig Wien. O MUMOK é o maior museu austríaco dedicado a artistas nacionais e internacionais modernos e contemporâneos. Com as suas coleções centradas na Pop Art e no fotorrealismo, passando pelos trabalhos da corrente Fluxus e do Novo Realismo, bem como pelo Acionismo Vienense, o museu estabelece uma ligação entre as obras maiores da arte do século XX, graças a uma abordagem à arte do social e do mundo real, apoiada pelo campo das artes performativas.
Um piso inteiro e uma sala de exposições – à parte e equipada com um dispositivo de cinema modulável, a MUMOK Factory – estão à disposição para uma rica sucessão de exposições temporárias. Por sua vez, a coleção permanente apresenta obras incontornáveis como “Uma mulher sentada…”, de Pablo Picasso, ou o “Alvo”, de Jasper Johns, para citar apenas alguns dos mais célebres. Se gosta do género, tire uma selfie e partilhe nas redes sociais. Estará certamente próximo do alvo.
Na extremidade do enorme pátio do MQW, para lá do MUMOK, ergue-se mais um estranho edifício. Com pouco mais de duas décadas, a Architekturzentrum Wien (Az W – sigla pela qual é conhecido o centro de arquitetura) impôs-se internacionalmente como a primeira morada europeia no que toca a esta arte. Lugar de exposições, encontros e serviços para quem se interesse por este saber a meio caminho entre a arte e a engenharia, a Az W dá prioridade aos trabalhos do século XX e às mutações espaciais atualmente em curso.
A coleção permanente revela uma especial preocupação pela documentação moderna e contemporânea e abre caminho para um projeto a longo prazo: a coleção de arquitetura austríaca dos séculos XIX e XX. Além das exposições temporárias, a Az W põe à disposição do público uma riquíssima biblioteca de consulta livre. As atividades da Architekturzentrum Wien completam-se com as visitas comentadas e ciclos de conferências regulares. Faça um telefonema a partir do hotel para saber o que irá estar patente no dia seguinte.
Finalmente, o edifício frontal. Bem no centro destas construções ultramodernas, ergue-se o monumental Hall de Francisco José, que acolhe a Kunsthalle Wien. Mais átrio elegante das artes do que museu, a Kunsthalle Wien vive sobretudo pela sua funcionalidade arquitetónica. Estendendo-se ao longo de duas alas, tem servido de palco para várias atividade expositivas e mediáticas, de tal modo que já se afirmou como um espaço de experimentação por excelência, revelando-se mesmo o mais dinâmico de Viena, sem nunca esquecer a sua outra vocação: ser um dos centros de arte contemporânea mais em voga na cena internacional. Os museus estão vistos. Talvez tenha chegado o momento de escolher o restaurante ideal. Pode procurar no site do MQW, consultar os menus, preços e contactos. Telefone, reserve e vá a pé, pois o que procura está certamente nas redondezas.
Outras sugestões
Outros espaços ficam por visitar: instituições dedicadas à dança e às artes do palco em geral, da mais recente música de câmara, passando pelo teatro-dança, aos eventos multimédia. Ficam ainda por contar as lojas especializadas, os cafés e restaurantes, mais ou menos na moda, as residências de artistas, os eventos regulares e festas sazonais, ou ainda as duas curiosas galerias temáticas que dão pelo nome de Electric Avenue e Transeuropa, cuja conceção arquitetónica se deve a jovens artistas europeus.
Tudo combinado entre os maiores museus, as pequenas galerias e os ateliers livres, entre outras microestruturas culturais. Uma Disney da cultura? Um parque temático das artes? Talvez pareça. Só que é tudo muito real.
O MQW é um verdadeiro quarteirão, no coração de uma cidade verdadeira com gente viva que cria e não com criações que fingem vida. E, claro, dele fazem parte as pessoas que o povoam e que o atualizam diariamente, dando aos lugares o que só a vida pode, para criar cultura. É verdade… já chegou a Viena? Quando chegar, telefone a avisar, sim?