O ex-Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse esta segunda-feira que o pedido de destituição analisado por uma comissão especial na Câmara dos Deputados contra Dilma Rousseff não tem argumentos necessários para vingar.

“Este pedido de ‘impeachment’ (destituição) não tem base legal, sem um crime de responsabilidade configurado nas contas de 2015, que nem foram entregues ainda, não é justificável tirá-la do cargo. Encurtar o mandato da Dilma por motivos políticos é um golpe”, disse.

Lula da Silva também afirmou que aceitou ser ministro e quer participar do governo para espantar o “mau humor” dos brasileiros, que segundo ele estão muito pessimistas graças ao fraco desempenho da economia nos últimos anos.

“O Brasil sempre foi considerado um país alegre e otimista. Aqui não havia desesperança. Agora o clima está muito ruim. Nós temos que fazer um esforço para apresentar uma proposta de mudança na economia para a população que funcione”, reforçou.

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Em conferencia de imprensa esta segunda-feira o ex-Presidente do Brasil disse que “vê com certa tristeza” a possibilidade do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) abandonar a coligação governamental.

“Vejo com certa tristeza o PMDB indicar que pode sair do governo, mas os ministros [deste partido que ocupam sete pastas] não vão deixar o governo e (a Presidente) Dilma Rousseff também não quer que eles saiam”, disse Lula da Silva no encontro com jornalistas estrangeiros.

O PMDB é o principal aliado da coligação da Presidente Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores (PT) no Congresso, já que conta com uma bancada de 69 deputados federais e 18 senadores.

Analistas e membros do governo já admitiram, porém, que ficará mais difícil barrar o processo de destituição de Dilma Rousseff, analisado por uma comissão especial na Câmara dos Deputados, se o partido sair da coligação. A saída ou não do PMDB da coligação do governo federal será decida numa reunião a realizar terça-feira em Brasília.

Questionado sobre esta possibilidade, Lula da Silva não fez projeções sobre o assunto, mas argumentou que a decisão do PMDB tem que ser clara.

“Se for sair por causa da política económica ele [PMDB] tem que dizer isso. Se a saída da base aliada [coligação] for motivada por outras coisas podemos negociar e até chegar a um acordo. Eu sei que ninguém gosta de apoiar um governo quando não está bem na opinião pública”, salientou.

Lula da Silva recordou que no seu mandato presidencial não tinha o apoio coeso do PMDB, que classificou como instituição política com grande força regional, mas com visões internas distintas.

“Teremos que fazer o mesmo que eu fiz em 2003. O governo irá construir uma base parlamentar com o PMDB e ter uma espécie de coalizão [coligação] sem a gestão (do partido). Eu não sei se isso é possível”, disse.

Lula da Silva concluiu frisando que mesmo que a rutura seja concretizada, ele e outras pessoas vão continuar a conversar e tentar fazer acordos com membros do PMDB.